Operação Condor

A Operação Condor, também conhecida como Plano Condor, foi instituída na Primeira Reunião Interamericana de Inteligência Nacional, realizada no Chile em 26 de novembro de 1975, da qual participaram representantes da inteligência militar dos governos do Brasil, da Argentina, do Paraguai, do Uruguai, da Bolívia e do Chile. Teve raízes na onda de golpes de Estado abertamente apoiados pela CIA e pela USAID (U.S. Agency for International Development) nos anos 1960 e 1970, e na generalização de medidas repressivas contra as amplas mobilizações armadas e civis que então combatiam a dominação norte-americana na América Latina e lutavam pela implantação do socialismo ou de regimes mais democráticos.

Em 1973, um mês antes do golpe no Chile, havia se constituído a Junta Coordenadora Revolucionária (JCR) formada pelo Movimento de Esquerda Revolucionária (MIR) chileno, o Exército Revolucionário do Povo (ERP) argentino, os Tupamaros do Uruguai e o Exército de Libertação Nacional (ELN) da Bolívia.

Depois do golpe chileno, teve início uma série de reuniões entre Augusto Pinochet e Kissinger, secretário de Estado dos Estados Unidos, e entre o chileno Manuel Contreras, diretor do Departamento de Inteligência Nacional (DINA) e mais tarde militar a cargo da Operação Condor, e Vernon Walters, diretor da CIA, que serviram para preparar esse sinistro projeto de extermínio.

Simultaneamente, tomou impulso a colaboração entre os quatro países implicados, para deter as ações da JCR e qualquer oposição às novas ditaduras. Segundo John Dinges, no livro Operación Cóndor (Santiago: Quebecor, 2004):

Com o golpe, pôs-se rapidamente em marcha uma operação conjunta do Batalhão de Inteligência 601 e da DINA para arrancar pela raiz as operações da JCR na Argentina. Os principais alvos eram o líder do MIR, Edgardo Enríquez, e o líder do ERP, Roberto Santucho […] em maio de 1975, os mensageiros da JCR, Jorge Fontes e Amilcar Santucho, haviam sido aprisionados no Paraguai.

Extraídas mediante tortura, as informações dos detidos no Paraguai serviram como base do início da cooperação sistemática da Argentina, do Paraguai, do Chile e do Uruguai (depois se incorporariam Brasil e Bolívia), desencadeando uma onda de prisões em larga escala. Meses depois, em novembro, esse esforço conjunto tomava nome.

Voos do Condor

A Operação Condor, que contou com o apoio logístico, tecnológico, financeiro e de treinamento dos Estados Unidos, tinha três componentes.

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João Batista Rita, o Catarina, desaparecido em 1973 em Buenos Aires, na Argentina, vítima da Operação Condor (Divulgação/Arquivo Público)
O primeiro dizia respeito à criação de um centro de acumulação de informação daquelas pessoas e organizações consideradas subversivas para sistematizá-las e pô-las à disposição de todos os membros do Condor. A sede do centro era o Chile, nomeado Condor 1. Para a utilização compartilhada desses recursos, criou-se um sistema de comunicação por telex, chamado Condortel. Segundo John Dinges, as comunicações dentro do marco da Operação Condor também faziam uso de uma poderosa rede de rádio militar, cedida pelo Exército dos Estados Unidos, cujo transmissor central estava na zona do Canal do Panamá.

O segundo componente era uma operação de colaboração de todos os Exércitos membros do Condor nas capturas, nos interrogatórios e nas torturas. Os prisioneiros podiam ser interrogados simultaneamente por oficiais de vários países e trasladados de um país a outro para serem interrogados ou executados.

O terceiro componente foi uma audaciosa operação de inteligência e execução para a ruptura das redes de apoio dos considerados subversivos em qualquer parte do mundo, incluindo a possibilidade de captura e o assassinato em países fora da área. Essa operação internacional se dirigia a comitês de solidariedade, organizações de direitos humanos e a exilados ou a seus familiares. Ou seja, implicava pôr em marcha caravanas da morte não só nos países do Condor, como de alcance transoceânico.

Vítimas

O Condor mantinha acordos com a operação de inteligência da CIA, destinados a desestabilizar Cuba e a deter qualquer tipo de relação ou influência desta no resto do continente. Essas operações eram encabeçadas por um grupo de cubanos exilados, que vivia em Miami e tinha uma base na Venezuela, com experiência no uso de bombas, e que colaborou estreitamente com integrantes da Operação Condor, particularmente na organização do banco de dados e na preparação de operações de extermínio.

O balanço do Condor em vidas humanas é só estimativo, porque os danos alcançaram uma comunidade muito maior do que a dos mortos e desaparecidos. Não obstante, estima-se que foram eliminadas aproximadamente 40 mil pessoas, das quais 30 mil na Argentina. Foi nesse país que a repressão atingiu o ápice, durante a ditadura do general Videla.

Em 2014, Brasil e Argentina assinaram um acordo de cooperação internacional para investigar as ações da Operação Condor e os crimes cometidos durante as ditaduras militares nos dois países. No Brasil, o Ministério Público Federal encontrou documentos das Forças Armadas na residência do tenente-coronel Paulo Malhães, que comprovaram a Operação Condor e sua rede internacional de ações criminosas, descritas em relatórios produzidos entre 1978 e 1979.

 Em 2015, aconteceu na Itália a primeira audiência do processo contra acusados de crimes cometidos na Operação Condor. Foram indiciadas 32 pessoas, entre elas, o ex-ministro do Interior boliviano Luis Arce Gómez, o ex-primeiro-ministro peruano Pedro Richter Prada, o ex-chefe dos serviços secretos chilenos Juan Manuel Contreras, e o general Francisco Morales Bermúdez, presidente do Peru entre 1975 e 1980. Eles respondem pelos crimes de sequestro, tortura e homicídio de 43 pessoas de várias nacionalidades. Os réus podem ser condenados à prisão perpétua.