Órgão de produção e difusão cultural vinculado à União Nacional dos Estudantes (UNE), fundado em 1961 por artistas e intelectuais, o CPC teve atuação marcante entre 1962 e 1964. Sua história se originou de um trabalho teatral realizado no Rio de Janeiro sob a orientação de dois atores e dramaturgos oriundos do Teatro de Arena de São Paulo, Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, e Chico de Assis. O projeto consolidou-se com a aproximação de intelectuais de outras áreas, como o sociólogo Carlos Estevam Martins, ligado ao Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB), e estudantes, como o futuro cineasta Leon Hirszman. O CPC inspirou-se no Movimento de Cultura Popular, o MCP, capitaneado por Miguel Arraes em Pernambuco a partir de 1960, e no projeto cultural do Partido Comunista. Em sua breve e intensa história, incorporou artistas e personalidades como Edu Lobo, Paulo Francis, Sérgio Ricardo, Carlos Lyra, Ferreira Gullar, João das Neves, Geraldo Vandré e Carlos Vereza, tornando-se um dos mais importantes movimentos culturais da história brasileira.
A estratégia da entidade era a da agitação e propaganda de produção de cultura nacional e popular engajada. Seu manifesto de lançamento trazia alguns princípios, como “fora da arte política não há arte popular” e “nossa arte só irá onde o povo consiga acompanhá-la, entendê-la e servir-se dela”. Entre os esquetes ou textos teatrais criados coletivamente, por exemplo, consta o Auto dos 99 por cento (1962), sobre a reforma agrária. A relação de autores da peça ilustra o perfil eclético em torno de uma mesma causa, o teatro político: Antônio Carlos Fontoura, Armando Costa, Carlos Estevam, Cecil Thiré, Marco Aurélio Garcia e Vianinha. Entre as peças teatrais produzidas pelo CPC estão ainda o Auto dos cassetetes e o Auto do tutu está no fim. Várias delas foram publicadas posteriormente.
Integrando a UNE Volante, caravana nacional realizada em 1962 que tinha como eixo a reforma universitária, o CPC percorreu diversos estados incentivando a formação de núcleos culturais de massa, num momento de aguda efervescência política e social. Chegou a possuir uma editora e uma distribuidora de arte e cultura. Financiou a produção do filme Cinco vezes favela, com episódios dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, Marcos Farias, Carlos Diegues, Leon Hirszman e Miguel Borges, e incentivou o trabalho de cineastas como Eduardo Coutinho. O braço musical, por exemplo, gerou o encontro de Tom Zé com Caetano Veloso e Gilberto Gil em Salvador, além da gravação de diversos trabalhos, entre os quais o disco O povo canta. Foram ainda lançados os Cadernos do povo brasileiro, coleção de livros sobre temas da época. Além disso, eram ministrados cursos de formação em diversas áreas da cultura.A Canção do subdesenvolvido, composição de Lyra e Assis, tornou-se uma espécie de hino entre estudantes e intelectuais de esquerda. Dizem os versos finais:
O povo brasileiro, embora pense, cante e dance como americano Não come como americano, Não bebe como americano, Vive menos, sofre mais Isso é muito importante Muito mais do que importante Pois difere o brasileiro dos demais Personalidade, personalidade, personalidade sem igual, Porém, Subdesenvolvida, subdesenvolvida, Essa é que é a vida nacional.
Em 1964, a destituição do governo legal pelo regime militar pôs fim ao CPC. O braço teatral da UNE ensaiava a peça Os Azeredo mais os Benevides, uma das mais radicais experiências épicas de Vianinha. A peça não chegou a estrear. A sede da UNE, no Rio de Janeiro, foi invadida, saqueada e queimada. A entidade passaria então a atuar na ilegalidade.