Candelaria, La

800pxCorporacin_colombiana_de_teatro.jpg
Casa onde funciona a Corporación Colombiana de Teatro, na Calle 12 Nº 2-65, Bogotá (baiji/Wikimedia Commons)

Fundada em 1966, na Colômbia, por Santiago García e um grupo de artistas, La Candelaria constituiu por quase cinquenta anos um dos emblemas do teatro de grupo na América Latina. A equipe fundadora foi integrada também por Patricia Ariza, Peggy Ann Kielland, Celmira Eepes, Vicky Hernández, Azeneth Velásquez, Isabel Sánchez, María del Rosario Ortiz, María Arango, Marina Zárate, Carlos José Reyes, Jaime Guillén, Frank Preuss, Fernando Laverde, Fernando Mendoza, Eddy Armando, Miguel Torres, Jacques Mosseri, Mario Posada, Mauro Echeverri, Roberto Álvarez, Rafael Murillo, Francisco Martínez, Eduardo Gómez, Raúl García e outros.

O grupo passou por várias etapas. Primeiro, a Casa da Cultura (1966-1968), com montagens como Soldados e Metamorfosis, escritas e dirigidas por Carlos José Reyes; La manzana, de Jack Gelber, Marat Sade, de Peter Weiss, El matrimonio, de Witold Gombrowicz, A gaivota, de Anton Chekhov, A história do zoológico, de Edward Albee, A cozinha, de Arnold Wesker, Dúo, de Jorge Blanco, e O banho, de Vladimir Mayakovski, todas a cargo de Santiago García; Macbeth, de William Shakespeare, com direção de Enrique Buenaventura; La patente, de Luigi Pirandello, dirigida por Reyes; El objeto amado, de Alfred Jarry, e Fando y Lis, de Fernando Arrabal, com montagem de Juan Sebastián.

A segunda etapa, de repertório universal (1969-1971), já no bairro La Candelaria, inclui A boa alma de Se-tsuan, de Bertolt Brecht, El triciclo, de Arrabal, El cadáver cercado, de Kateb Yacine, El menú, de Buenaventura, a cargo de García; Ubu encadenado, de Jarry, e Parlamento de Ruzante que ayer llegó de la guerra, de Angelo Beolco, dirigidas por Juan Sebastián; e Divinas palabras, de Valle Inclán, encenada por Carlos J. Reyes. A terceira etapa da criação coletiva (1972-1981) foi integrada pelas montagens de Santiago García: Nosotros los comunes, La ciudad dorada, Guadalupe años sin cuenta (Prêmio Casa de las Américas de 1976), Os dez dias que abalaram o mundo (Prêmio Casa de 1978); Golpe de suerte; e Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto.

A quarta etapa, denominada Atores e Dramaturgos (1982-1996), marcou, junto a Diálogo del rebusque, Corre, corre Chasqui Carigueta, El paso, Maravilla Estar, La trifulca, En la raya o Manda Patibularia, de García, a necessidade de outros atores converterem-se em autores-diretores. Assim, Fernando Peñuela criou La tras-escena e Tráfico pesado; Patricia Ariza, El viento y la ceniza, e Nohora Ayala empreendeu a direção de Femina Ludens, liderada por mulheres. Com Fanny Baena, Nohora criou outra aproximação ao universo feminino: Próxima estación.

Uma etapa recente, ainda não qualificada, é marcada por uma experiência de desafio e ruptura às vésperas de completar quatro décadas: Nayra (La memoria , a criação coletiva na qual se deu mais liberdade às propostas individuais de cada um. Apoia-se num discurso sem fábula e sem personagens, guiado pela exploração no campo da memória, dos mitos, arquétipos, sonhos, esperanças e dores do mundo presente.

Princípios da criação coletiva

La Candelaria defende a criação coletiva, que entende de maneira livre, de acordo com certos princípios: a motivação, fruto da práxis política, para abordar uma montagem apropriada ao momento pelo qual está passando a sociedade; a investigação, que inclui textos oficiais e extraoficiais; entrevistas que tratem do assunto selecionado e de outras fontes; a proposta de um relato ou história básica a partir da qual se busca o tema por meio das improvisações sobre as forças em conflito (para cada montagem se trabalham diferentes formas de improvisação, que resultam das duas primeiras etapas e das experiências das montagens anteriores); o tema de uma obra “é o assunto fundamental do qual trata, é a substância do conteúdo” e é por meio da “elaboração da forma que se vai aclarando, definindo, precisando o tema”; a formulação de uma primeira hipótese de estrutura: o argumento vai aparecendo por meio das explicações do tema, assim a obra se estrutura por linhas argumentais e temáticas; a estruturação do texto literário e iconográfico, para o qual o grupo se divide em comissões: música, figurino, cenografia e dramaturgia, na fase de maior criatividade, da qual depende a montagem definitiva.

Sob o selo Ediciones, La Candelaria tem publicado trabalhos como o livro Tea­tro La Candelaria 1966-1996. Do grupo saíram criadores que impulsionaram importantes projetos em diferentes épocas da cena colombiana, como Miguel Torres, diretor de El Local; Eddy Armando, guia de La Mama; Jorge Vanegas, entre outros.

Muitos dos integrantes do La Candelaria mantêm uma vida profissional ativa dentro e fora do coletivo, como professores ou à frente de projetos. Patricia Ariza presidiu a Corporação Colombiana de Teatro e dirige os grupos Rapsoda, integrado por jovens, e Flores de Otoño, composto por mulheres da terceira idade; Fernando Peñuela dirigiu Detrás de nosotros com Rapsoda; César Badillo incursionou pelo cinema sob a direção de Orjuela (El carro) e Ciro Gómez (La sombra del caminante).

Santiago García

A trajetória do La Candelaria confunde-se com a de Santiago García. Em seu início como diretor, García incursionou pelo teatro do absurdo europeu e por aspectos formais por meio do repertório clássico. Em 1965, influenciado por Brecht, encenou Galileu Galilei com o grupo de teatro da Universidade Nacional. Em seguida, adaptou as teorias brechtianas e continuou desenvolvendo-as com o La Candelaria. Sua obra está profundamente vinculada à do grupo; além de atuar como ator, diretor, autor individual ou de obras de criação coletiva, trabalha como professor, dentro da perspectiva do movimento Novo Teatro Colombiano, buscando uma linguagem teatral própria. Seu modo de entender a criação coletiva foge de assumi-la como método e, preocupado com a busca de uma identidade nacional, além de Brecht, incorpora o estruturalismo, a semiologia, linguagens espaciais como a cinese, o ato da fala, a física quântica, a teoria do caos e outras.

Ex-diretor da Escola Nacional de Arte Dramática, García dirige a oficina permanente de pesquisa e formação teatral desde 1983 e é membro executivo da Corporação Colombiana de Teatro. É fundador e membro da equipe pedagógica da Escola Internacional de Teatro da América Latina e Caribe (Eitalc). Recebeu prêmios nacionais e internacionais, entre eles, o Prêmio Ollantay do Centro Latino-americano de Criação e Investigação Teatral (Celcit), 1985; Medalha ao Mérito de Contracultura; Medalha ao Mérito Artístico Instituto Distrital de Cultura e Turismo, Alcaldía Mayor de Bogotá; Medalha ao Mérito “10 Años al Paso”, 1995; Doutorado honoris causa da Universidade Nacional da Colômbia, 1998; Ordem de Cavaleiro pelo Senado da República, 1998; Ordem Civil ao Mérito José Acevedo y Gómez, Concejo de Bogotá, 2004. Suas obras foram apresentadas em festivais de teatro da América Latina e do mundo. Dirigiu no México, em Cuba, na Costa Rica e nos Estados Unidos, deu conferências e oficinas em vários países e publicou numerosos artigos na imprensa e em revistas nacionais e internacionais, além do livro Teoría y práctica del teatro. Suas obras apareceram em revistas especializadas, em 5 obras de teatro (Ediciones Teatro la Candelaria, 1986); Antología del teatro experimental en Bogotá (IDCT, 1995), Tres dramaturgos Colômbianos (Ediciones Antropos, Escuela Nacional de Arte Dramático, Colcultura, 1996), e El Quijote (Eds. Teatro La Candelaria, 2002), entre outras.

Comprometido com sua realidade, o animador do La Candelaria considera o teatro

confluência do que sucede na cena com o público. [E] representação dos conflitos dos homens num mundo que se transforma e é transformável, pelo homem, essa interação deve sintetizar-se no que chamamos a imagem teatral, [noção que para ele] não é a ideologia nem o conceito, mas sua função é a de romper a ideologia ou de reafirmar conceitos e ideo­logias.

Ele define a dramaturgia como

a arte de inventar ou criar um espetáculo teatral, para o qual contribuem vários textos, não só o literário, tais como o gestual, da plástica (cenografia e figurino), do som (música, canções, ruídos), o do ator etc.

Interessou-se sempre por um teatro que buscasse mais o desenvolvimento das ações que o das ideias ou temas.

Por ocasião dos trinta anos de La Candelaria, a revista A teatro escreveu: “[…] não deixaram de fazer história, histórias. Loucos. Irreverentes. Talentosos. Profissionais. Profundos. Sustentadores. Ousados. Sem papas na língua. Mestres. Exemplo. Criadores. Coletivos […]”