Militante e dirigente estudantil do Partido Obrero, estudante de sociologia e homossexual assumido, Néstor Perlongher logo entraria em conflito com o “machismo” das estruturas partidárias de esquerda na conturbada década de 1970. Pouco depois da criação da Frente de Liberación Homosexual de la Argentina (FLH), aderiu a ela e produziu uma mudança radical na organização, passando de um centralismo democrático à organização federativa de grupos. Ele mesmo fazia parte do Grupo Eros, de onde imporia o seu forte carisma na condução da FLH. Sob a influência de “Rosa”, como o apelidavam em alusão à Rosa Luxemburgo, a Frente desenvolveria uma ampla atividade de propaganda, apoio a greves e protestos estudantis, articulações com as feministas e organização de grupos de estudo.
Em janeiro de 1976, apenas dois meses depois de instaurada a ditadura na Argentina, ocorreu a prisão e o julgamento de Néstor Perlongher. Esse fato marcou também a desintegração da FLH. Em 1981, Perlongher emigrou para o Brasil, onde cursou o mestrado de Antropologia Social na Universidade Estadual de Campinas. Lá, dedicado ao estudo e à pesquisa etnográfica, produziu um trabalho pioneiro na antropologia brasileira: O negócio do michê, prostituição viril em São Paulo, obra publicada em português (Brasiliense, 1987) e em espanhol (La Urraca, 1993). Acadêmico e poeta, também é autor de uma vasta produção de poesia “neobarroca” (ou como ele mesmo a denominou na sua rebelde e corrosiva irreverência: “neobarrosa”). Áustria-Hungria (1980), Alambres (1987), Hule (1989), Parque Lezama (1990), Águas aéreas (1990) e El cuento de las iluminaciones (1992) se destacam como algumas de suas produções mais relevantes. Também organizou a antologia poética denominada Caribe transplatino, Poesia neobarroca cubana e rio-platense (1991). Publicou, além disso, numerosos textos em prosa, entre os quais se destacam El fantasma del SIDA (1988) e o já citado O negócio do michê, prostituição viril em São Paulo. Foi colaborador das revistas El Porteño, Alfonsina, Último Reino e Diário de Poesía.
Faleceu devido a complicações decorrentes do vírus HIV, em 26 de novembro de 1992.