Gutiérrez, Gustavo

Lima (Peru), 1928

Um dos principais teólogos latino-americanos e um dos expoentes da Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez ingressou, em 1947, na Universidade Nacional Maior de São Marcos (UNMSM), onde estudou quatro anos de medicina. Ao mesmo tempo, fez o curso de Letras na Pontifícia Universidade Católica do Peru. Nesses anos participou, como laico, na Ação Católica. De 1951 a 1955, estudou filosofia e psicologia na Universidade Católica de Louvain (Bélgica) e se graduou em psicologia. De 1955 a 1959, estudou teologia na Universidade Católica de Lyon (França) – onde obteria, em 1985, seu doutorado em teologia – e de 1959 a 1960, na Universidade Gregoriana, em Roma. Entre 1962 e 1963, estudou no Institut Catholique, em Paris.

Gutiérrez ordenou-se sacerdote em 1959. No ano seguinte, quando de seu regresso ao Peru, assumiu a assessoria da União Nacional de Estudantes Católicos (UNEC), que posteriormente daria origem ao Movimento de Profissionais Católicos, ambos vinculados ao movimento internacional católico de estudantes e de intelectuais Pax Romana. Ainda em 1960, passou a ensinar na Pontifícia Universidade Católica, de cujo Departamento de Teologia foi professor principal. Seus cursos na Faculdade de Letras e depois na de Ciências Sociais entabulavam um diálogo entre a fé cristã e o pensamento contemporâneo. No início dos anos 1960, ele assistiu, como assessor teológico do Monsenhor Manuel Larraín do Chile, ao Concílio Vaticano II. Posteriormente, participou das preparações dos diversos Departamentos do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), da II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Medellín (Colômbia), em 1968, à qual compareceu como perito teológico. De 1967 a 1979, foi membro da Equipe de Reflexão Teológica do CELAM e, de 1968 a 1980, integrou a Equipe de Reflexão Teológica da Conferência Episcopal Peruana. Em 1979, foi também assessor de vários bispos latino-americanos na II Conferência Geral do Episcopado Latino-americano, em Puebla (México).

Década decisiva

Os anos 1970 constituíram um dos momentos marcantes de sua trajetória. Além das funções docentes e junto à hierarquia eclesiástica, Gutiérrez fundou em 1974, com uma pequena equipe, o Instituto Bartolomé de Las Casas. Ao mesmo tempo, exerceu o ofício como vigário cooperador da paróquia San Francisco de Paula, no Rímac, distrito popular de Lima, atuando como encarregado da capela de Cristo Redentor. A relação diária com os moradores desse bairro pobre e desvalido o interpelava cotidianamente sobre o sentido de seu trabalho pastoral e teológico.

Na verdade, Gutiérrez não é um teólogo de escrivaninha, mas sim uma pessoa apaixo­nada e incansavelmente compro­me­tida. A proximidade com a vida coti­diana de muitos homens e mulheres, especialmente das crianças de sua paróquia no Rímac, e o ouvido atento ao clamor desse povo constituíram a fonte que alimentou sua espiritualidade e sua teologia. Com razão, E. Schillebeeckx, um dos teó­logos mais importantes do século XX, disse­ de Gutiérrez: “sua metodologia é sua es­piritua­lidade”. Com efeito, teologia e espiritualidade, teologia e vida são inse­paráveis na obra do pensador peruano.

Suas obras de maior destaque, Teología de la Liberación (1971), Beber en su propio pozo, Hablar de Dios desde el sufrimiento del inocente (1986), El Dios de la vida (1989), En la busca de los pobres de Jesucristo (1992), abriram marcas profundas no fazer teológico, não apenas peruano mas também latino-americano e universal. Uma teologia vivida e pensada desde a chamada “periferia” tornou-se presente e abriu horizontes e múltiplos esforços para viver e pensar a fé em Jesus Cristo a partir dos pobres, dos “insignificantes”, dos “não pessoas”. A Teologia da Libertação assume que a história da salvação se dá em uma mesma história, não existe uma história sagrada e outra humana. Seu método consiste em entender a teologia como ato segundo, porque primeiro é a prática ou ação humana. Assim, a teologia é uma reflexão da fé dos acontecimentos da vida, sobre a presença ou ausência do amor de Deus. Essa reflexão tem um caráter integral, pois inclui as dimensões social, econômica, humana e religiosa.

Dominicano

Gutiérrez é professor de teologia na Universidade Católica de Notre Dame, Indiana, nos Estados Unidos. Também é membro do Conselho de Redação das revistas Concilium (Holanda) e Paginas (Peru), da Associação de Teólogos do Terceiro Mundo (EATWOT), e do Comitê Assessor do Centro de Estudos e Publicações, que publicou suas principais obras. No final de 1998, ele ingressou na Ordem dos Dominicanos na França, com a qual tinha, além do mais, fortes laços desde que foi estudante em Lyon, e que lhe oferecia um espaço propício para o desenvolvimento de seu trabalho teológico. Várias de suas obras são inspiradas no pensamento do dominicano frei Bartolomé de Las Casas, defensor dos índios no século XVI.

Foi recebido pelo papa Bento XVI em 2007 e pelo papa Francisco em 2013. Recebeu o título de doutor honoris causa em Teologia da Universidade de Yale. Em 2015, residia no convento dos dominicanos em Lima, no Peru, onde se dedicava a escrever um livro sobre “a opção pelos pobres”.