Astor Pantaleón Piazzolla é um dos músicos mais consagrados da Argentina e da América Latina. Compositor, arranjador e intérprete (bandoneon), foi um grande renovador da música do seu país, sobretudo com suas estilizações do tango. Suas criações e interpretações inovadoras fizeram-no respeitado no campo da música popular, do jazz e da música sinfônica, estilos nos quais criou, tendo atuado ao lado de músicos e orquestras de grande prestígio internacional. No entanto, durante muito tempo, em seu próprio país teve detratores, sobretudo no que se refere ao tango, pois inovou justamente no gênero que tinha recebido o estatuto de referência da nacionalidade local, da identidade argentina, e que portanto, para muitos, deveria ser intocado. Sua sensibilidade, porém, estava calcada em algumas das essências dos sentimentos humanos: dor, solidão, lirismo etc., transpostos para as suas músicas, que alcançaram amplo reconhecimento, extrapolando fronteiras.
Piazzolla iniciou seus estudos musicais ainda criança em Nova York, nos Estados Unidos, para onde sua família se mudou quando ele tinha três anos. Por volta de 1936, a família retornou para a Argentina e, em 1938, Piazzolla se fixou em Buenos Aires. Passou a tocar em alguns grupos musicais até se integrar, no ano seguinte, à famosa orquestra de tango de Aníbal Troilo (1914-1975). No início da década de 1940, voltou a estudar música, com o renomado compositor Alberto Ginastera, e também piano, logo se iniciando também na composição erudita, com a “Suite para cuerdas y arpa”. Ginastera, nessa época, tinha preocupações estéticas nacionalistas, mas também se voltava para as técnicas de vanguarda do século XX, o que certamente foi transmitido ao aluno. Deixando a orquestra de Troilo, Piazzolla adquiriu experiência como diretor de uma orquestra que acompanhava o famoso cantor de tango Francisco Fiorentino. Em 1946, organizou um grupo próprio, mas ainda de acordo com os princípios mais convencionais do gênero. Na primeira metade da década de 1950, compôs várias peças eruditas e recebeu prêmios na Argentina, nos Estados Unidos e na França. Também ganhou uma bolsa de estudos e seguiu para a França em 1954, a fim de se aperfeiçoar com a célebre professora Nadia Boulanger (1887-1979). Quando retornou a Buenos Aires, iniciou sua fase de maior ruptura estética em relação ao tango tradicional.
Em 1958, estabeleceu-se novamente, por dois anos, em Nova York, trabalhando como arranjador. Ali, diante da morte do pai, compôs o famoso “Adiós nonino”, em 1959, com texto de Eladia Blázquez (1931-2005). Voltando ao seu país, formou o quinteto musical Nuevo Tango, que se notabilizou e excursionou por várias cidades argentinas e outros países. Dez anos depois, em 1969, compôs uma de suas músicas de maior sucesso, a “Balada para un loco”, com texto do poeta Horacio Ferrer (1933), que se consagrou mundialmente. A música foi lançada na voz de Amelita Baltar (1940), com quem Piazzolla foi casado até 1974. Nesse mesmo ano, realizou gravações notórias com o saxofonista norte-americano Gerry Mulligan, reunindo o sax barítono ao seu bandoneon, mais a orquestra. Nesse disco incluiu outra música sua de grande prestígio, “Years of solitude” (“Años de soledad”). No fim dessa década também retomou suas criações sinfônicas e camerísticas. Sua carreira já estava consolidada, mas continuaram as composições, gravações e turnês internacionais para se apresentar com orquestras, regentes e músicos reconhecidos do cenário mundial, tanto populares quanto eruditos.
Piazzolla acumulou mais de uma dezena de livros publicados sobre sua vida e obra, até no Japão, onde teve grande prestígio. Existe também o Centro Astor Piazzolla, em Buenos Aires, fundado em 1995, voltado para a divulgação e promoção de sua obra.