Neruda, Pablo

Neruda, Pablo

Parral, 1904 - Santiago (Chile), 1973

Com a publicação de Veinte poemas de amor, de Neftalí Ricardo Reyes Basualto, ou Pablo Neruda, em 1924, a poesia latino-americana de língua hispânica deu um salto definitivo para o século XX. Lançada sob a inspiração do contemporâneo, a segunda obra do poeta chileno teve grande aceitação popular e o projetou para um lugar único no cenário poético da América. A envergadura do escritor que se dedicava a traduções e a obras de teatro (como Fulgor y muerte de Joaquín Murieta, 1967) é comparada à “de um planeta poético”.

Sua trajetória literária conciliou períodos distintos de criação, o que mostra as facetas diferentes de sua obra poética: uma voltada ao amor, a mais popular; outra centrada no político, nas causas sociais, nos pobres e nos trabalhadores; e a terceira baseada na conscientização da intimidade. O vocabulário informal, extraído do dia a dia amoroso da adolescência e empregado no conjunto das primeiras vinte poesias, deu lugar ao poema épico Canto general (1950), tom que o aproxima de muitas das criações do poeta brasileiro Carlos Drummond de Andrade.

Depois de doze anos de dedicação à sua escritura, iniciada em 1938, construiu um imenso mural do continente hispano-americano sob a tríplice perspectiva telúrica, histórica e humana. Seus 15 mil versos cantam a injustiça e a dor que pesam sobre o ser latino-americano, dos quais o escritor intencionalmente se fez porta-voz, chegando a registrar inúmeras violências cometidas contra o povo como, entre outras, o assassinato de Olga Benário, companheira do revolucionário comunista Luiz Carlos Prestes.

O envolvimento com a política passou da militância e do ingresso no Partido Comunista ao cargo de senador. Viveu no exílio durante o governo de Gabriel González Videla e travou inúmeras polêmicas, como a alimentada com o poeta mexicano Octavio Paz, ao afirmar que “toda criação que não esteja a serviço da liberdade nestes dias de ameaça total é uma traição”.

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Salvador Allende e Pablo Neruda (Biblioteca del Congreso Nacional de Chile)

As ações políticas sustentaram também muitas de suas viagens. A visita à antiga União Soviética, à China e a outros países socialistas durante a Guerra Fria foi tema para outro livro, Las uvas y el viento (1954), e motivação para a convivência com intelectuais de gerações distintas, como os espanhóis Federico García Lorca, Rafael Alberti e o brasileiro Vinicius de Moraes, entre tantos outros. Manteve uma gama plural de atividades culturais.

Em seu país, fundou e dirigiu a revista La Gaceta de Chile em 1955. Na Espanha, encarregou-se da publicação Caballo verde para la poesía (1938).

Ao receber o Prêmio Nobel em 1971, era um autor consagrado politicamente − ou um “poeta de utilidade pública”, como se autointitulava. Também teceu em sua obra os paradoxos da condição humana, que trata da solidão e da solidariedade, da subjetividade e da ideologia.

É vastíssima a sua obra, reunida em cerca de quarenta volumes dedicados somente às criações poéticas. Assim como é extensa a lista de premiações que recebeu ao longo de toda a vida, entre as quais o Viareggio-Versilia, instituído em 1966, concedido a personalidades dedicadas à cultura e à promoção do entendimento entre os povos.

Foi um dos poetas que deu continuidade ao trabalho de Gabriela Mistral, por formar uma referência paradigmática da poesia latino-americana, influenciando gerações de escritores deste e de outros continentes, como atesta o excelente poeta chileno Gonzalo Rojas (Prêmio Cervantes, 2004). Outras obras: Residencia en la tierra (1935); España en el corazón (1938); Memorial de Isla Negra (1964); Geografía infructuosa (1972); Confieso que he vivido (1974).