Apesar de todas as sociedades terem vivido a violência em momentos específicos de suas histórias, no caso colombiano essa circunstância se fez presente ao longo da maior parte de sua existência. Logo depois da guerra da independência, durante o século XIX, houve oito conflitos civis generalizados, catorze locais e duas guerras com o Equador. No século XX, ocorreram a guerra com o Peru, numerosos levantes populares urbanos e rurais; a violência bipartidarista dos anos 1940 e 1950; o atual conflito – que enlaça de maneira complexa as organizações guerrilheiras, as autodefesas ou paramilitares, os cartéis e os agrupamentos do narcotráfico – e as ações militar e policial do Estado, com o apoio econômico, técnico e militar dos Estados Unidos.
A gravidade da violência nos últimos cinquenta anos, muito acentuada depois da década de 1980, devido à entrada em cena das organizações paramilitares e do narcotráfico, vai além daquilo que os dados estatísticos conseguem mensurar – na maioria dos casos, eles não registram plenamente os fenômenos. A violência assumiu muitas formas: assaltos a povoados, ataques a instalações militares, massacres e assassinatos seletivos de civis, combates abertos, emboscadas, campos minados, ações terroristas contra as pessoas e seus bens, sequestros, extorsões, desaparecimentos forçados e deslocamentos em massa da população.
Algumas cifras parciais e limitadas: o número de ações armadas passou de 1.061 em 1996 para 2.832 em 2002 e teve um ligeiro aumento em 2003 (2.838). Os sequestros, no mesmo espaço de tempo, cresceram de 1.092 em 1996 para 3.706 em 2002; no total, entre 1998 e 2002 aconteceram 12.347 sequestros, com uma média de 3.086 por ano. De 1997 a 2000, os homicídios fora de combate chegaram a 17.776, dos quais 930 produzidos em massacres (71,8% atribuídos aos paramilitares, 22% aos guerrilheiros e 3,6% às forças públicas). Somente no período de 1998 a 2002, os massacres foram estimados em 703 (uma média de 176 por ano), com um total de 4.056 vítimas; entre 1997 e 2002 houve 4.655 desaparecimentos (74% atribuídos aos paramilitares, 9,9% à guerrilha e 16% às forças públicas); no intervalo de 1998 a 2000, desapareceram 634.155 pessoas. Até 2001, calcula-se que 130 mil minas antipessoais foram semeadas nos campos cultivados, e suas vítimas, entre 1990 e 2002, chegaram a 1.514.
De acordo com as avaliações do governo Álvaro Uribe Vélez, durante sua gestão, as dimensões desses fatos teriam caído sensivelmente, em consequência de sua política de segurança democrática. Apesar disso, como advertiram algumas organizações não governamentais e o próprio Alto Comissariado das Nações Unidas para os direitos humanos, a diminuição dos indicadores poderia ser só um efeito conjuntural, que não significaria uma variação definitiva das tendências.
Mas, na Colômbia, a violência não decorre apenas dos conflitos armados. Quando se leva em conta o total de homicídios cometidos entre 1997 e 2001 (126.231), o número de mortes decorrentes do fenômeno da violência política (25.468) representa apenas 20% do total. A delinquência comum responde por 80% dos casos. A isso é preciso agregar o alto índice de impunidade, pois a ineficiência da justiça fez com que, em 2002, do total de delitos contra a vida e a integridade pessoal (91.244), apenas 37% (33.851 casos) resultassem em prisões. Quanto aos homicídios, do total registrado no mesmo ano (28.622), só foram feitas prisões em 21% dos casos (5.987).