Trotskista e ex-líder guerrilheiro, Hugo Blanco Galdós, filho de advogado, estudou agronomia e reuniu-se a uma facção do trotskismo na Argentina, em 1954. De volta ao Peru, em 1958, decidiu trabalhar como um “arrendatário” a mais numa fazenda de Alfredo Romainville, em Chaupimayo.
Com a Revolução Cubana de 1959, reproduziram-se “focos” guerrilheiros como instrumentos de transformação em toda a América Latina dos anos 1960. A experiência de Hugo Blanco e seus “sindicatos” camponeses foi muito diferente: nesse caso, a organização do povo era a premissa da mobilização. Tal aposta não era infundada, a julgar pelos resultados obtidos e pela multiplicação dos sindicatos no sul andino. Os latifundiários podiam controlar toda a terra que quisessem, mas sua valorização dependia do trabalho gratuito dos índios. Se esses trabalhadores acatassem as greves dos seus sindicatos, teriam poder para desencadear uma terrível crise agrária. Diante do aumento da repressão aos movimentos camponeses, Blanco e o Sindicato de Chaupimayo pegaram em armas, por meio de uma coluna guerrilheira. Em maio de 1963, o grupo foi desbaratado e Blanco, capturado e condenado a 25 anos de prisão. Em 1970, o governo de Juan Velasco Alvarado o anistiou e, em 1971, deportou-o. Viveu no México, Suécia, Argentina e Chile, até voltar ao Peru em 1975 e se reintegrar à vida política. Em 1976, depois de protesto popular contra o novo regime militar de Francisco Morales Bermúdez, Blanco foi novamente exilado. Regressou em 1978 e integrou a Assembleia Constituinte. Na década de 1980, foi eleito deputado nacional pela coalizão Esquerda Unida, entre 1980 e 1985, e atuou como senador da República até o golpe de Alberto Fujimori em 1992. Nos anos 1990, defendeu os interesses dos camponeses de Cuzco: propôs a legalização do cultivo da folha de coca e a compra de 100% da produção pelos países industrializados. Seria o único meio de ganhar a adesão dos camponeses para combater o narcotráfico.Apesar das perseguições, desde o início, as ações de Hugo Blanco precipitaram a implementação da reforma agrária no Peru. Antes que o governo dos oficiais do Exército peruano impusesse, em 1969, uma das reformas agrárias mais radicais da região, a paisagem rural do país esteve dominada tanto por plantações agroindustriais dedicadas ao processamento do algodão e do açúcar como por enormes latifúndios tradicionais, cuja produção servia para a manutenção do seu pessoal ou de pequenos excedentes dirigidos aos mercados locais e regionais. As primeiras eram capital-intensivas e estavam em geral situadas na costa central e no norte do Peru. Já as segundas, as fazendas tradicionais, eram mais trabalho-intensivas e estavam situadas ao longo e ao largo do espaço andino.
A vida cotidiana e a exploração imposta pelos proprietários das fazendas tradicionais sobre os trabalhadores, chamem-se estes servos, colonos, arrendadores ou huasipugueros, não eram muito diferentes das que imperavam na Europa medieval, no sentido de que exploravam as terras mais pobres do proprietário, em troca do pagamento de uma renda em trabalho ou em produtos. Mas essa situação começou a modificar-se na segunda metade do século XX, com o crescimento demográfico, a deterioração e a diminuição de recursos rurais e a ilusão da cidade grande. Iniciou-se uma onda de mobilizações camponesas, integradas na sua maioria por pequenos proprietários, que invadiam as terras das fazendas próximas. Em suas palavras, “recuperavam-nas”, na convicção de que grande parte daquelas terras era apenas o resultado do despojamento imposto aos camponeses pelos latifundiários. Essas mobilizações foram da reivindicação da propriedade da terra ao questionamento da legitimidade da ordem agrária tradicional.
Nem todas essas mobilizações eram externas. Desenvolveu-se igualmente uma pressão dos colonos e servos que trabalhavam e viviam nos limites dos grandes latifúndios. Exemplo disso se passou na década de 1960 nos vales da Convención y Lares, em Cuzco, zona especializada na produção e exportação de café. A mobilização dos “arrendatários” da região foi de total êxito, como resultado de eficiente organização desses produtores em “sindicatos”, como consequência do comprometimento e do ensino de Hugo Blanco.