Velasco Alvarado, Juan

Velasco Alvarado, Juan

Piura, 1910 - Lima (Peru), 1977

Entre 1968 e 1979, um grupo de oficiais do Exército peruano decidiu implementar reformas radicais contra a crise que afetava a sociedade e ameaçava a institucionalidade do país. O protagonista desse contexto foi o general Juan Francisco Velasco Alvarado.

Alvarado nasceu no norte, na cidade de Piura, em 16 de junho de 1910. Filho de lar humilde, cursou seus estudos iniciais no Colégio São Miguel, na mesma cidade. Ao concluí-los, viajou para Lima, e em 1929 ingressou como voluntário no Exército, chegando a estudar na Escola de Classes e ascender ao posto de cabo. No ano seguinte, ingressou na Escola Militar de Chorrillos e, em 1934, saiu como subtenente de infantaria. Dez anos mais tarde, em 1944, passou para a Escola Superior de Guerra, onde lecionou no final de seus estudos. Entre 1950 e 1953, foi diretor da Escola Militar de Chorrillos e, em 1959, quando era general de brigada, foi nomeado diretor-geral de Tiro Nacional. Chegou ao comando-geral da Segunda Divisão Ligeira, em 1960, e à chefatura do Estado-Maior Divisionário da Primeira Região Militar, com sede em Piura, em 1964.

Depois de atuar como adjunto militar na França e de integrar a delegação perua­na na Junta Interamericana de Defesa, retornou ao Peru em 1966 e exerceu a inspetoria-geral do Exército. Em setembro desse ano, foi nomeado chefe do Estado-Maior do Exército. Depois de ocupar o comando-geral do Exército, em 1968, assumiu a presidência do comando-conjunto das Forças Armadas, quando liderou o golpe institucional do Governo Revolucionário das Forças Armadas, cuja ação inicial foi a ocupação das jazidas petrolíferas controladas pela Internation­al Petroleum Company, uma subsidiária da Standard Oil.

As reformas impulsionadas por Velasco Alvarado e seus colaboradores mais próximos, além de outros oficiais e alguns civis, orientaram-se para cancelar as bases econômicas e culturais do domínio da oligarquia tradicional. Em razão dessa meta, realizou-se uma reforma agrária que liquidou as fazendas tradicionais da serra e as plantações agroindustriais da costa e impulsionou uma reforma no sistema de propriedade das indústrias, estabelecendo as comunidades industriais. Nacionalizaram-se os bancos e as companhias de seguros, reduziu-se o controle de capital estrangeiro em algumas empresas e confiscaram-se os meios de comunicação, preparando as bases para uma reforma educativa. Tais recursos e ativos passaram ao controle do Estado e de suas agências, gerando como resultado um capitalismo de Estado sob controle de importantes empresas públicas. Apesar do radicalismo, os resultados dessas reformas foram limitados na sua capacidade de transferir excedentes à população, ao mesmo tempo que a terra era insuficiente para satisfazer a demanda da população rural. O caráter vertical e autoritário que marcou o exercício de governo, as inconsistências de seu modelo “nem capitalista nem comunista”, a manipulação aberta dos atores políticos e a hostilidade do capital internacional e dos partidos políticos e sindicatos domésticos isolou o governo e o tornou vulnerável às tensões das demandas insatisfeitas. Uma grave doença debilitou Velasco Alvarado, que na prática foi o único oficial convencido a mudar de maneira profunda as bases econômicas e sociais do Peru. Em agosto de 1975, foi desalojado do poder. Seu sucessor e principal incentivador do golpe institucional que o depôs, o general Francisco Morales Bermúdez, encarregou-se de desmontar essas reformas e iniciar o caminho da restauração da ordem tradicional. A enorme multidão que acompanhou o enterro de Alvarado, em dezembro de 1977, foi o testemunho póstumo de reconhecimento a quem foi sem dúvida o ator das mudanças mais significativas que se processaram na história do Peru do século XX.

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