Aristide, Jean-Bertrand

Aristide, Jean-Bertrand

Port-Salut (Haiti), 1953

Padre salesiano desde 1982, Aristide estudou teologia na Itália, na Grécia e em Is­rael. Nesses países, entrou em contato com correntes progressistas da Igreja Católica. De volta ao Haiti, foi indicado para uma paróquia em uma favela de Porto Príncipe. Em suas pregações, atacava o governo de Jean-Claude Duvalier, a quem acusava de autoritário e plutocrata. Foi perseguido pelos Tontons Macoutes, que destruíram sua igreja, mas escapou de tentativas de assassinato. A população, principalmente na capital haitiana, o apoiava.

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O presidente Jean-Bertrand Aristide em encontro com o presidente dos Estados Unidos Bill Clinton, na Casabranca, em outubro de 1994 (NARA)
Titid, como é conhecido, participou ativamente dos movimentos que derrubaram Duvalier do poder, em 1986. Estimulou o surgimento de associações de bairro, principalmente em Porto Príncipe. Delas se originou o movimento Lavalas (“avalanche”, em crioulo), do qual é o maior líder. Em 1988, foi expulso de sua ordem religiosa, cujos membros o consideravam demasiado radical. Dois anos depois apresentou-se à eleição presidencial, vencendo-a com 67% dos votos.

No início do mandato, em 1991, Aristide tentou conciliar os interesses de seus apoiadores e de seus opositores. Sua estratégia de consenso fracassou, e, para não perder a simpatia das camadas populares, ele radicalizou seus discursos, convocando um levante popular contra as elites. Foi derrubado no mesmo ano por militares e ex-Tontons Macoutes hostis à realização de mudanças radicais no país, como a reforma agrária e a redistribuição de renda.

Com a cabeça a prêmio, Aristide viajou para a Venezuela, e depois para os Estados Unidos. Aproximou-se do Partido Democrata, que garantiu seu retorno à presidência do Haiti, em 1994. Permaneceu dois anos no cargo, período em que implementou políticas de cunho neoliberal. Substituído por René Préval, um de seus aliados, interferiu diretamente nos rumos do governo. Foi reeleito presidente em 2000.

Em seu último mandato, facilitou o acesso de produtos estrangeiros ao Haiti e ordenou a privatização das empresas de telecomunicações e de água, entre outras. Sua política foi criticada por movimentos sociais. No final de 2003, reprimiu manifestações populares contra seu governo. No ano seguinte, as mobilizações se multiplicaram. Ex-militares iniciaram um levante contra Aristide, que solicitou ajuda internacional. O governo dos Estados Unidos, com o aval da ONU, decidiu intervir e, em 2004, sequestrou o presidente e o enviou para a República Centro-Africana. Titid passou, então, a financiar grupos a fim de manter seu apoio nos bairros pobres. Chamados Chimè (“quimeras”, em crioulo), semeavam, muitas vezes, o terror. Depois de sete anos de exílio, o ex-presidente voltou ao Haiti em 2011.