Préval, René

Préval, René

Porto Príncipe (Haiti), 1943

Eleito presidente no início de 2006, René Préval tem uma trajetória política longa e ambígua. Agrônomo de formação, lutou, com o então padre Jean-Bertrand Aristide, nos movimentos de resistência à ditadura de Jean-Claude Duvalier (1971-1986). Quando Titid, como é conhecido Aristide, foi eleito presidente, em 1991, assumiu o cargo de primeiro-ministro. Na época, além de homens de confiança, eram amigos próximos. Fugiu do país, assim como Aristide, após o golpe militar que depôs o governo, ainda em 1991.

Aristide voltou ao Haiti em 1994, depois de uma estada nos Estados Unidos, e continuou próximo de Préval, indicando-o como seu sucessor pelo partido Lavalas. O ex-primeiro-ministro venceu as eleições e tentou fazer um governo de coalizão, unindo os diferentes setores sociais do país. Por um lado, manteve o projeto político de Titid, como a privatização de parte do setor público, sob pressão do Fundo Monetário Internacional (FMI), e a priorização do livre-comércio ao desenvolvimento econômico haitiano. Por outro, contrariando as determinações do governo dos Estados Unidos, restabeleceu relações diplomáticas com Cuba e estimulou trocas com países do Caribe. Sua tentativa de unir os diferentes setores sociais fracassou.

Seu mandato, que se encerrou em 2000, foi marcado por grande turbulência, que teve início com o racha do Lavalas entre os partidários e os críticos a Aristide. A divisão se fez sentir em seu governo e, como pôde, Préval tentou manter um equilíbrio entre os rivais. No final do mandato, alinhou-se a Aristide, que assumiu proeminência em seu governo. Em 1999, Préval dissolveu o Parlamento para garantir a posse de um primeiro-ministro apoiado por Titid. A Organização das Nações Unidas (ONU) criticou a decisão. Préval foi o único presidente eleito haitiano a encerrar, no tempo previsto e sem interrupção, seu mandato.

Quando Aristide reassumiu a presidência, em 2001, Préval manteve uma atitude discreta. Não rompeu com o governo, criticado por diversos setores da sociedade, mas também não participou dele. Desde a ocupação do Haiti por tropas estrangeiras, em fevereiro de 2004, até a campanha para as eleições presidenciais, dois anos depois, Préval não apareceu muito no noticiário político do país. Não participou de debates nem apresentou um programa político para o novo governo.

René Préval conquistou a presidência com o desafio de combater os índices de violência, corrupção e miséria históricos do Haiti e de recompor as instituições do país. O presidente iniciou numerosas reformas, privatizou diversas estatais e fechou um pacto energético com a Venezuela, por meio de um convênio com a Petrocaribe, conseguindo combustível a preços preferenciais e condições favoráveis de financiamento. Em 2008 o Haiti aderiu ao Cariforum, grupo de cooperação que reúne dezesseis nações do Caribe.

O país, porém, sofreu com diversas catástrofes naturais, que agravaram a já preocupante situação de penúria e instabilidade social. Entre 2007 e 2008, o Haiti esteve na rota de cinco furacões. A destruição que provocaram levou a uma crise alimentar, marcada por saques e rebeliões contra o governo. Em 2010, um violento terremoto deixou o país sem energia elétrica, água potável e saneamento básico, matando pelo menos 270.000 pessoas e afetando aproximadamente 3 milhões de haitianos. Cerca de 20.000 militares de dez países se deslocaram até a ilha caribenha para ajudar no processo de pacificação, distribuir água e comida, até que um mínimo de equilíbrio fosse estabelecido.

Préval pediu à Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti (Minustah) que não enfrentasse as gangues antes de ser feita uma tentativa de negociação do governo, que, afinal, fracassou. As ações dos soldados da Missão são monitoradas por representantes dos Direitos Humanos. Em 2010 o Mercosul decidiu conceder preferências tarifárias ao país até 2019.

As eleições de 2011 acontecem em clima de tensão e em meio a uma epidemia de cólera. O resultado inicial das urnas indicaram a realização de um segundo turno. Uma missão da Organização dos Estados Americanos (OEA) foi chamada para fiscalizar a contagem dos votos. Dessa forma, a transferência legítima de governo foi realizada com Michel Martelly, candidato da oposição eleito presidente, sucedendo René Prevál.

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