Considerado um dos mais importantes políticos e líderes de massas da República Dominicana, José Francisco Peña Gómez teve uma história pessoal épica. Era filho de emigrantes haitianos que, poucos meses depois de seu nascimento, tiveram de fugir do país por causa dos massacres ordenados por Trujillo. José Francisco ficou órfão, sendo adotado pela família formada por Regino Peña e Fermina Gómez.
Ocupou-se nos mais diversos ofícios, desde sapateiro até mecânico. Essas vicissitudes não impediram que logo se destacasse nas questões acadêmicas. Depois de graduado pela escola secundária, estudou direito na Universidade de Santo Domingo, realizando posteriormente estudos de especialização na França e nos Estados Unidos.
Foi locutor da Voz Dominicana, sendo sua vibrante oratória uma de suas virtudes mais destacadas. A compilação de seus discursos ocupa mais de quinze volumes. Em 1961, integrou-se às fileiras do Partido Revolucionário Dominicano (PRD), organização na qual foi escalando posições. Para as eleições de 1962, as primeiras livres depois de trinta anos de ditadura, Peña Gómez foi o responsável pela propaganda da organização. Nessa função, teve responsabilidade direta na campanha eleitoral que levou o PRD a uma vitória avassaladora, obtendo 60% dos votos. Quando aconteceu o golpe de Estado e Juan Bosch foi para o exílio, em setembro de 1963, Peña Gómez já era um dos principais líderes do PRD.
Em 1965, por ocasião do golpe de Estado por parte dos militares que propugnavam a volta de Bosch, foi Peña Gómez quem, por meio do rádio, conclamou a população a apoiar o levante constitucionalista, desencadeando uma mobilização em larga escala. Em 1973, quando Juan Bosch se afastou do PRD para formar seu próprio partido, o Partido da Libertação Dominicana, Peña Gómez já era o principal líder do PRD, embora somente em 1986 chegasse à presidência da organização. O PRD vinculou-se internacionalmente à social-democracia, e Peña Gómez tornou-se um destacado dirigente desta, chegando a ocupar a vice-presidência da Internacional Socialista e a presidência do Comitê para a América Latina dessa organização. Foi prefeito da cidade de Santo Domingo durante o governo do PRD encabeçado por Salvador Jorge Blanco, de 1982 a 1986.
Por três vezes Peña Gómez foi candidato presidencial, obtendo mais votos nas eleições de 1994 e 1996. Em 1994 ocorreu uma crise pós-eleitoral devido às irregularidades que caracterizaram o processo. O presidente Joaquín Balaguer viu-se forçado a reduzir seu mandato para dois anos e a fazer importantes modificações constitucionais, como a inclusão da não reeleição. Em 1996, a aliança entre dois inimigos históricos, o Partido Reformista Social Cristão e o Partido da Libertação Dominicana, resultou no triunfo do PLD e do seu candidato Leonel Fernández. Apesar dessas derrotas, Peña Gómez continuou sendo o líder fundamental do PRD, superando as crises internas periódicas que afetavam esse partido.
A morte de Peña Gómez em maio de 1998 – ano das eleições congressuais e municipais –, após uma longa batalha contra o câncer, não apenas provocou uma avalanche de votos a favor dos candidatos do PRD, mas também deu margem a uma enorme e comovente demonstração da dor popular.