Mora Valverde, Manuel

São José (Costa Rica), 1909 - 1994

Costa-riquense nascido em 1909, graduou-se advogado em junho de 1931. Fundador do Partido Comunista da Costa Rica (PC), que só pode assumir este nome em 1975. O nome inicial do Partido, vetado pelas autoridades políticas do momento, era Bloque de Obreros y Campesinos [Bloco de Operários e Camponeses] (BOC).

Um traço característico do pensamento e da ação política comunista na Costa Rica é o de ter bebido da fonte marxista-leninista proveniente da Revolução Bolchevique de outubro de 1917, na Rússia, mas também de ter-se nutrido das tradições anti-imperialistas e democráticas próprias do país.

Deputado em várias ocasiões durante os anos 30 e 40, a primeira em 1934, aos 25 anos de idade, voltaria a sê-lo na década de 1970. Sua chegada ao Congresso, junto com a Greve Bananeira (também em 1934), deu ao PC reconhecimento político e lhe permitiu uma boa implantação na classe trabalhadora costa-riquense. Parte das demandas do proletariado agrícola nessa greve – liderada pelo PC e vitoriosa ante a United Fruit Company (UFCo) – eram melhorias salariais e pagamento das remunerações em dinheiro (e não em fichas e cupons para trocar nos armazéns denominados comisariatos, da própria Companhia); estabelecimento de dispensários para combater a malária que aniquilava os trabalhadores; moradias higiênicas e o pagamento em dólares aos produtores nacionais de banana que vendiam para a UFCo. Carlos Luis Falla, o Calufa, líder do PC, foi o principal dirigente da greve. É o autor do romance de aguda crítica social sobre o assunto, intitulado Mamita Yuna.

A partir de 1940, quando o dr. Rafael Ángel Calderón Guardia chegou à presidência (1940-1944), a vida política se tornou intensa e emergiram forças que em um alinhamento confrontativo levaram o país à guerra civil de 1948. Calderón Guardia, sob a influência da doutrina social da Igreja Católica, impulsionou uma série de reformas sociais importantes, como o estabelecimento dos seguros de saúde e de previdência social, através de uma instituição capital na vida do povo costa-riquense, a Caixa Costa-riquense de Seguro Social (CCSS). Conseguiu também introduzir um capítulo sobre garantias sociais na Constituição e, ainda, a aprovação do primeiro Código do Trabalho. Isto fez com que a oligarquia cafelista, embora o tenha apoiado para eleger-se presidente, se afastasse de seu governo nos seus primeiros anos e começasse a cultivar a ideia de induzir um golpe de estado. Necessitado de apoio, o calderonismo se dispôs a selar uma aliança com os comunistas, que aproveitaram a ocasião que lhes oferecia a história para sustentar um governo da burguesia inclinado para as reformas sociais e, ao mesmo tempo, aprofundar algumas das ditas reformas. Naqueles anos, dirigia a Igreja Católica um homem de mentalidade progressista, o monsenhor Víctor Sanabria Martínez, que dava respaldo às reformas de Calderón. Para facilitar as alianças e evitar resistências, os comunistas modificaram alguns aspectos de seu programa e mudaram o nome do partido, de BOC para Partido da Vanguarda Popular (PVP). Em 15 de setembro de 1943, dia da Independência Nacional, num desfile histórico, Calderón Guardia, Mora Valverde e Sanabria Martínez desfilaram juntos num automóvel, data em que se promulgou o Código do Trabalho.

Os anos 1940 foram os anos dourados dos comunistas, não só pelo número de deputados que levaram ao Congresso, mas também pela influência política que obtiveram. Depois da anulação das eleições de 1948 pelo Congresso controlado pelos comunistas e calderonistas, nas quais Ulate­ saíra vitorioso contra Calderón, José Figueres se levantou em armas e desencadeou uma guerra civil que duraria quase seis semanas. Foi quando os comunistas se tornaram um dos principais pilares do governo de Picado. Ele havia sucedido Calderón com a mesma procedência partidária. Frente à iminência da vitória de Figueres e do Movimento de Libertação Nacional, e com o fim de evitar uma luta ainda mais sangrenta, as negociações conduziram à saída de Picado, Calderón e Mora do país. Mas antes, Manuel Mora se reuniu com Figueres para fazer um acordo sobre os termos do encerramento da guerra civil. Mora temia uma intervenção de forças dos Estados Unidos a partir do Panamá, no contexto da Guerra Fria, e sabia a ferida que isso poderia significar para a soberania nacional, coisa que nunca antes ocorrera. A reunião entre Mora e Figueres, que a história reconhece como Pacto de Ochomogo, pelo lugar em que se realizou, permitiu concluir a guerra civil e, além disso, Mora obteve garantias de Figueres de que as reformas sociais dos anos 1940 se manteriam incólumes, o que efetivamente foi respeitado.

Foi permitido que Mora fosse para Cuba e México, onde residiu por algum tempo antes de retornar à Costa Rica. Os anos 1950, no contexto do pós-guerra civil e da Guerra Fria, foram difíceis para os comunistas costa-riquenses, pois seu partido foi colocado na ilegalidade e eles tiveram que levar uma vida muito discreta.

Durante os anos 1960 as coisas melhoraram, mas ainda assim eles não participaram da política com pretensões de ocupar cargos eleitorais até os anos 1970, quando, no início dessa década, Mora foi novamente eleito deputado. Em 1975, por fim, eliminaram-se as restrições constitucionais para a participação, ideologicamente sem dissimulação, do comunismo na vida política nacional. Nessa década, surgiram novos partidos de esquerda influenciados pela Revolução Cubana (o Partido Socialista Costa-riquense e o Movimento Revolucionário do Povo). A partir de 1978 forjou-se uma coalizão entre eles, denominada Povo Unido, cujo maior êxito, muito distante daquele dos comunistas durante a década de 1940, foi conseguir a eleição de quatro deputados (7% da Assembleia Legislativa) em 1982-1986. No transcurso desses mesmos anos, no contexto da crise econômica nacional de 1980-1982 e da crise política centro-americana dos anos 80, por razões ligadas à tática e à estratégia política que devia seguir tanto no âmbito interno como no regional, o Povo Unido se debilitou, o PVP se dividiu e a esquerda costa-riquense entrou num declive pronunciado que a conduziu a um quase virtual desaparecimento da Costa Rica.

Manuel Mora Valverde faleceu em 1996. De maneira quase unânime se reconhece sua extraordinária trajetória política e seu espírito patriótico excepcional. Mas o Partido Comunista da Costa Rica, que ajudou a fundar em 1931, se extinguiu junto com ele.