Millôr Fernandes

Millôr Fernandes

Rio de Janeiro (Brasil), 1924 - 2012

Cartunista, artista gráfico, teatrólogo, tradutor, escritor e jornalista, Millôr Fernandes influenciou todas as gerações de humoristas brasileiros a partir dos anos 1940. Também renovou a linguagem gráfica, com a influência de artistas europeus, como os romenos Saul Steinberg e André François – cuja vertente distanciava-se do figurativismo em voga e acercava-se das artes plásticas, criando imagens marcadas pela deformação e pelo abstracionismo.

Foi como escritor, entretanto, que Millôr revelou toda a extensão de seu talento. Por dezoito anos (1945-1963), manteve uma página dupla de grande sucesso na revista O Cruzeiro, que chegou a tirar 720 mil exemplares semanais em edições simultâneas em português e espanhol. A seção chamava-se Pif-Paf (“Cada exemplar é um número, cada número é exemplar”) e mesclava textos, frases, ilustrações, cartuns, poemas, esquetes teatrais, formando, em meio ao aparente anarquismo editorial, o estilo daquele que se autoconcedia o epíteto “Enfim um escritor sem estilo”.

Após publicar, em 1963, “A verdadeira história do Paraíso”, narrativa que ocupou várias páginas da revista, Millôr foi sumariamente demitido. O conto, uma livre interpretação do mito criacionista, terminava de uma maneira considerada intolerável por setores carolas da sociedade e da direção da empresa: “Essa pressa leviana/ Demonstra o incompetente?/ Por que fazer o mundo em seis dias/ Se tinha a eternidade pela frente?”.

Desempregado, em 1964 – ano do golpe de Estado no Brasil –, Millôr buscou fazer da seção interna uma revista autônoma, com a colaboração de outros artistas. O Pif-Paf quinzenal durou oito números, pouquíssimos para uma publicação viável, mas suficientes para marcar definitivamente a imprensa brasileira.

Quando a Editora Abril lançou a revista Veja, em 1968, lá estava o Supermercado Millôr, em página dupla, com a pena e o verbo afiado do autodenominado “Guru do Méier”.

No ano seguinte, 1969, Millôr é um dos fundadores – juntamente com humoristas e jornalistas como Ziraldo, Jaguar, Fortuna,­ Tarso de Castro, Ivan Lessa e Paulo Francis – do semanário Pasquim, definidor da imprensa alternativa.

Ao mesmo tempo, desenvolveu intensa atividade como tradutor, autor teatral e roteirista de cinema. Sua carreira, que ultrapassou seis décadas, se materializou, entre outras coisas, em mais de cinquenta livros. Poucos profissionais brasileiros espalharam suas habilidades em tantos campos e com tamanha competência. A isso tudo, ele desdenhava com graça: “Há os que/ não sabem/ antropologia/ E os que ignoram/ trigonometria/Mas de mim/ ninguém pode/ falar nada/ Minha ignorância/ Não é especializada”.

Morreu em 27 de março de 2012, vítima de uma parada cardíaca, aos 88 anos.

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