CUT Brasil

Central Única dos Trabalhadores, Brasil

A CUT nasceu da associação de diversas forças com tradições sindicais distintas –­ setores da esquerda, da pastoral operária, sindicalistas independentes – que tinham como objetivo a construção de um sindicalismo autônomo, em oposição ao atrelamento das entidades sindicais às estruturas do Estado. Nasceu rejeitando as formas de conciliação de classe e defendendo o amplo direito de greve e uma ação sindical mais combativa nos embates com governos e patrões. O “sindicalismo cutista” buscava representar os assalariados do campo e da cidade e também a emergente organização dos trabalhadores de setores médios e de serviços, tais como bancários, professores, médicos, funcionários públicos etc.

O projeto de criar uma central de mobilização e luta dos trabalhadores em nível nacional teve como pano de fundo as articulações, disputas, divisões e contradições entre as três principais forças que atuavam no movimento sindical: os sindicalistas acomodados na estrutura sindical, os dirigentes vinculados à esquerda operária católica e os ativistas articulados em torno da esquerda tradicional – Unidade Sindical. A oportunidade para realizar tal articulação ocorreu em 1978, no V Congresso da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria (CNTI). A união de ativistas sindicais contra a direção da entidade, na ocasião presidida por Ary Campista, foi um ensaio de unidade e mobilização dos dirigentes mais ativos, que constituíram uma identidade política própria, passando a denominar-se sindicalistas autênticos. Faziam parte desse grupo diversas lideranças que, depois, criariam a CUT – entre elas Luiz Inácio Lula da Silva – além de sindicalistas ligados ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).

402pxTrade_union_demonstration_in_Brasilia.jpg
Manifestação sindical com participação da CUT no ano de 2007, em Brasília, Brasil (ABr)
O movimento das oposições sindicais, cuja expressão mais fortemente articulada era o Movimento da Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo (MOMSP), também contribuiu para a constituição da CUT. A primeira iniciativa para reunir, organizar e mobilizar as diferentes forças de esquerda que atuavam no movimento sindical ocorreu no congresso da MOMSP realizado em São Paulo, em 1979.

Outra intervenção importante viria da Associação Nacional dos Movimentos Populares e Sindicais (Anampos). A entidade realizou quatro congressos nacionais entre 1980 – Encontro de Monlevade – e 1982 – Encontro de Goiânia. No primeiro encontro foi aprovado o Documento de Monlevade, no qual se estabeleceram as principais bandeiras e orientações: luta pela democratização da estrutura sindical, seguindo o que rege a Convenção 87 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas resguardando o princípio da unidade sindical, fim dos impedimentos jurídicos que restringem o pleno direito de greve e reivindicação da negociação direta entre trabalhadores e patrões, sem a mediação ou intervenção do Estado.

Da Conclat à CUT

Na I Conferência Nacional das Classes Trabalhadoras ­
(I Conclat), realizada em 1981, estiveram reunidas, pela primeira e última vez, as diferentes forças, tendências e correntes do espectro político sindical brasileiro. Entretanto, as disputas e divergências entre as forças reunidas – por um lado, em torno da Unidade Sindical e, por outro, ao redor da Anampos – propiciaram o clima político à ruptura da unidade do movimento, a qual se aprofundaria ao longo das décadas de 1980 e 1990.

Mesmo com essa divisão, foi fundada, em agosto de 1983, em São Bernardo do Campo (SP), a Central Única dos Trabalhadores, congregando os setores identificados com a Anampos. Eles defendiam, de modo geral, um sindicalismo independente da interferência estatal, mais democrático e atuante, sem acomodação à estrutura sindical. A CUT deveria garantir não apenas o acesso mais amplo da classe trabalhadora às entidades e à estrutura sindical, mas também ampliar os direitos de organização para todos os indivíduos.

Os caminhos trilhados pelo sindicalismo propugnado pela CUT, do momento de sua fundação ao seu III Congresso (1988), representaram a lenta, mas significativa mudança na sua práxis sindical, cujo conteúdo mais evidente foi o abandono do ideário curiosamente denominado movimentista, libertário, socialista e conflitivo.

Com essa mudança no perfil da ação e dos ativistas sindicais no interior da CUT, a partir do III Concut, as práticas mais combativas deram lugar a um padrão de ação sindical mais pragmático e negociador. Foi sendo construída a figura do “sindicalista profissional”, que fundamenta sua ação de modo mais racional e pragmático nas disputas com governos e patrões. A conseqüência foi a redução dos conflitos para dar lugar a ações mais negociadas.

Institucionalização e moderação

Um elemento importante para abrandar as ações de caráter mais radical da CUT seria o processo de institucionalização vivido pela central, expresso nos mais variados documentos, teses e discussões levantadas pela tendência majoritária (Articulação Sindical), ao afirmar que o objetivo central é a organização da nova entidade, e não a organização direta no movimento sindical e operário.

Assim, nos anos 1990, se sedimentou, no interior da CUT, um tipo de sindicalismo que ficou consagrado na literatura como propositivo. Essa práxis sindical tem na noção de negociação seu elemento principal e estruturante. Ela considera que não basta os trabalhadores assumirem uma conduta de rejeição, sendo fundamental, em face dos dilemas enfrentados, construirem alternativas viáveis para superá-los. Assim, rejeitando a estratégia de confronto predominante na década de 1980, a CUT defendeu e praticou um sindicalismo cada vez mais moderado, em boa medida resultante do refluxo da atividade sindical no plano nacional e internacional.