Brizola, Leonel de Moura

Brizola, Leonel de Moura

Cruzinha, 1922 - Rio de Janeiro (Brasil), 2004

Nascido em família pobre, no interior do Rio Grande do Sul, Leonel de Moura Brizola projetou-se como um dos mais destacados líderes políticos do Brasil do século XX. Expressão mais radical do trabalhismo de Getúlio Vargas, esteve quase sempre próximo dos movimentos sociais, das chamadas “reformas de base” do período pré-golpe de 1964 e de uma perspectiva socialista.

Órfão de pai na infância, concluiu os es­tudos primários graças aos cuidados que recebeu da Igreja Luterana. Deslocou-se para Porto Alegre, trabalhou em diversas ocupações de baixa remuneração, mas conseguiu concluir o supletivo, formar-se técnico rural e, posteriormente, engenheiro, aos 27 anos. Em 1945, ingressou, com sindicalistas, no primeiro núcleo do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) gaúcho. Elegeu-se deputado estadual em 1947 e casou-se, em 1950, com Neusa Goulart, irmã de João Goulart. Getúlio Vargas foi seu padrinho de casamento.

Em 1952, foi nomeado secretário de Obras do Rio Grande do Sul e, em 1954, foi eleito deputado federal. Eleito prefeito de Porto Alegre, em 1955, priorizou a educação popular, o saneamento básico e o transporte público, governando com amplo apoio da população que o elegeu governador do Rio Grande do Sul, em 1958, com 55% dos votos.

No governo, articulou a crítica ao modelo político-econômico dependente implantado por Juscelino Kubitschek e defendeu um padrão de desenvolvimento industrializante, fundado na aliança entre os trabalhadores, o Estado e o empresariado nacional, voltado para o mercado interno. Em sua gestão criou a Caixa Econômica Estadual e conquistou o controle acionário do Banco do Rio Grande do Sul. Desenvolveu o setor produtivo: criou a empresa mista Aços Finos Piratini, articulou a instalação da Refinaria de Petróleo Alberto Pasqualini e encampou a Companhia Riograndense de Telecomunicações (CRT), subsidiária da americana International Telephone and Telegraph (ITT), e a Companhia de Energia Elétrica Riograndense, filial da American and Foreign Power Company.

Em 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, organizou o movimento de resistência ao veto dos ministros militares à posse do vice-presidente trabalhista João Goulart, o Jango. Montou a “cadeia da legalidade” e, por meio da Rádio Guaíba, chamou a população a resistir à tentativa de impedimento da posse de Jango. A ação penetrou nos meios militares, particularmente no III Exército, levando seu comando, então vacilante, a aderir à resistência, pondo fim ao golpe e às tentativas de bombardear o Palácio Piratini, de onde Brizola comandava as mobilizações.

Em 1962, elegeu-se deputado federal pelo Rio de Janeiro, alcançando uma das maiores votações proporcionais da história brasileira. Articulou a Frente de Mobilização Popular, integrada por sindicalistas, estudantes, militares nacionalistas e parlamentares para pressionar a realização das reformas de base, que incluíam, entre seus principais pontos, a reforma agrária, a restrição à remessa de lucros, o combate à especulação imobiliária e a reforma universitária.

Chamou a população a organizar-se em grupos de onze para defender as reformas e, no comício da Central do Brasil, de 13 de março de 1964, discursou clamando pela dissolução do Congresso – que via como reacionário e golpista, pois havia apoiado o veto a Jango em 1961 e resistia às reformas. Defendeu a convocação de uma assembleia constituinte de operários, camponeses, sargentos e homens autenticamente populares. Diante do golpe militar de 1964, mobilizou novamente o III Exército, mas Jango descartou a resistência, desmontando o apelo legalista na oficialidade.

No período de exílio, esteve no Uruguai, nos Estados Unidos e em Portugal. Voltou ao Brasil em 1979 para refundar o PTB, mas seu direito à legenda foi negado pelo último governo da ditadura, que entregou a sigla a Ivete Vargas. Fundou então o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Com ele defendeu o socialismo moreno – que deveria incluir os direitos sociais e políticos de negros e índios, e foi governador eleito do Rio de Janeiro nos períodos de 1982 a 1986 e de 1990 a 1994 –, com o qual aprofundou a crítica ao modelo dependente e associado, atribuindo os males da sociedade brasileira às perdas internacionais, impostas pelo capital estrangeiro.

Candidatou-se à presidência da República em 1989, recebendo no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, estados que governou, 50,5% e 60,9% dos votos, respectivamente. Perdeu para Luiz Inácio Lula da Silva, por 0,5% da votação nacional, o direito a disputar com Fernando Collor de Mello o segundo turno das eleições (obteve em São Paulo o apoio de apenas 1,4% do eleitorado local). Apoiou Lula naquela ocasião, mas não recusou aproximar-se de Collor, em sua segunda gestão no governo do Rio de Janeiro. Em troca dessa aproximação, que contribuiu para o desgaste de seu governo, pôde construir a Linha Vermelha, importante obra viária no Grande Rio.

Fez campanha sistemática contra as privatizações do período Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Fracassou em novas tentativas eleitorais, mas nunca deixou de ser voz influente nas grandes articulações políticas. Foi vice de Lula nas eleições de 1998. Último político trabalhista do ciclo nacionalista brasileiro, morreu de infarto no Rio de Janeiro, não sem antes começar a criticar a política econômica de Lula, a quem o PDT havia apoiado em 2002.