“Pizindim”, como era chamado por sua avó em um dialeto africano, ou Bexiguinha, apelido que recebeu quando era garoto e contraiu varíola, Alfredo da Rocha Viana Filho passaria para a história da música brasileira com um nome-síntese: Pixinguinha.
Neto de africana, filho de flautista e caçula de catorze irmãos, Pixinguinha teve como primeiro instrumento o cavaquinho. Aos treze anos, porém, passou a estudar flauta e iniciou sua carreira profissional com o instrumento que utilizaria para se tornar o maior gênio do choro e um dos maiores instrumentistas, compositores e arranjadores da música brasileira.
A música de Pixinguinha está organicamente vinculada aos primórdios do choro, estilo musical nascido no Rio de Janeiro na primeira década do século XX, que fundiu ritmos africanos à música de salão europeia e à música popular portuguesa. Teve como precursores Chiquinha Gonzaga (primeira compositora de renome no Brasil) e Ernesto Nazareth (inventor do tango brasileiro, a partir do tango argentino e da polca), além dos músicos anônimos, geralmente de origem negra, que formavam uma baixa classe média e encontravam na música popular tocada nos quintais sua principal fonte de diversão e lazer. É na estética melancólica que envolve aquela fusão que se revela o espírito do choro; daí uma das versões para explicar a origem do seu nome. Tendo como formação básica violão, cavaquinho e flauta, sua influência se espraia pela música brasileira, indo do samba aos catorze Choros de Heitor Villa-Lobos.
Como solista e compositor, Pixinguinha estreou em 1917, com a valsa “Rosa” e o choro “Sofres porque queres”. Desde criança esteve ligado às festas de carnaval e foi nesse ambiente que conheceu João Pernambuco, João da Baiana (o introdutor do pandeiro no samba) e Donga (autor de “Pelo telefone”, considerado o primeiro samba gravado no Brasil, em 1917). Com eles realizou muitos trabalhos, tendo formado com Donga o grupo Oito Batutas, em 1919, com o qual excursionou pela Europa e Argentina, em 1922.
Estima-se que Pixinguinha tenha composto mais de mil músicas, incluindo outros gêneros que não o choro, muitas das quais contribuíram para criar a base da canção popular brasileira. Entre elas estão “Um a zero” – composta em 1919 para comemorar o primeiro título internacional da seleção brasileira de futebol, que venceu o Uruguai e conquistou o Sul-Americano – e “Carinhoso”, um dos pontos mais altos da música brasileira. Escrita em 1917 e gravada somente em 1928, recebeu duras críticas pela sua influência do jazz, mas se popularizou em 1937 ao ser gravada por Orlando Silva, com letra de João de Barro. Atuando regularmente como orquestrador a partir de 1928, Pixinguinha foi, ao lado de Radamés Gnattali, um dos criadores da base orquestral da música brasileira.
Em 1940, foi indicado por Villa-Lobos para organizar os músicos (entre eles Cartola) que participariam da célebre gravação a bordo do navio Uruguai, destinada à divulgação da música brasileira nos Estados Unidos, com a mediação do maestro Leopold Stokowski (1882-1977), que resultou em três discos intitulados Native Brazilian music. Gravou outros discos antológicos, como seu primeiro LP, Velha guarda, de 1955, e Gente da antiga (ao lado de João da Baiana e Clementina de Jesus), de 1968. Em 1942, fez sua última gravação tocando o instrumento que o consagraria, passando a tocar saxofone ao lado do flautista Benedito Lacerda, seu parceiro em “Um a zero” e no clássico “Naquele tempo”.
Pixinguinha faleceu em fevereiro de 1973, quando sofreu o segundo enfarte. Sua esposa, dona Beti (Albertina da Rocha), com quem teve apenas um filho adotivo, havia morrido havia menos de um ano. Mais de duas mil pessoas compareceram ao seu enterro e cantaram “Carinhoso”.