Lispector, Clarice

Lispector, Clarice

Tchetchelnik (Ucrânia), 1920 - Rio de Janeiro (Brasil), 1977

Filha de ucranianos, de família judaica, veio ainda criança para o Brasil e morou em Pernambuco, e depois no Rio de Janeiro, onde trabalhou como redatora e tradutora. Lida por Antonio Candido como a “origem das tendências desestruturantes, que dissolvem o enredo na descrição”, em 1940 começou a escrever contos, publicados mais tarde em A bela e a fera (1979), e a desenvolver a atividade jornalística, o que a aproximou de diversos intelectuais, dentre os quais Lúcio Cardoso, escritor de romances intimistas de quem se tornou amiga e leitora.

Em 1944, publicou seu primeiro livro, Perto do coração selvagem, no mesmo ano em que se casou com um diplomata de carreira, o que a fez passar longos períodos na Europa e nos Estados Unidos. Durante esses anos, dedicou-se à maternidade e à escrita de diversos contos classificados como “obras de arte” pelo escritor Fernando Sabino. Ao romper o casamento, retornou ao Brasil, onde foi saudada pela crítica por sua vigorosa literatura introspectiva. Em 1961 publicou o romance A maçã no escuro. Recebeu o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do Livro, por Laços de família (1960).

Passou a ser muito lida na França após a tradução de A paixão segundo G. H. (1964). Ao lado das obras de escritoras como Lygia Fagundes Telles e Nélida Piñon, associou questões feministas à perspectiva intimista. No espectro da experimentação formal de Maria Alice Barroso, Osman Lins, Guimarães Rosa e Ana Miranda, a originalidade de sua prosa poética é consequência de uma profícua pesquisa da linguagem no universo do fluxo psíquico. Em 1969, publicou o livro infantil A mulher que matou os peixes e recebeu por O mistério do coelhinho pensante (1967) a Ordem do Calunga, prêmio concedido pela Campanha Nacional da Criança.

Em meio ao recrudescimento da ditadura militar brasileira, entrevistou personalidades para a revista Manchete na seção “Diálogos possíveis com Clarice Lispector” e participou da manifestação “Passeata dos 100 mil” contra o regime em junho de 1968. Nesse ano, foi nomeada assistente de administração do Estado e proferiu palestras em Belo Horizonte.

Clarice, Carlos Scliar, Oscar Niemeyer, Glauce Rocha, Ziraldo e Milton Nascimento, em passeata contra a ditadura militar, no Rio de Janeiro, em junho de 1968 (Divulgação)

Conquistou estilo tão singular quanto o da costa-riquenha Eunice Odio, a quem se aproxima pelo misticismo esotérico. Sua obra é estudada segundo os mais diversos pontos de vista, como o viés social de A hora da estrela (Prêmio Jabuti, 1998) e o viés judaico dos seus livros. Outras obras: O lustre (1946); Felicidade clandestina (1971); Água viva (1973).