Peña Nieto, Enrique

Atlacomulco (México), 1966

Enrique Peña Nieto é advogado, membro do Partido Revolucionario Institucional (PRI), atual presidente dos Estados Unidos do México desde 2012 e ex-governador do Estado do México (2005-2011).

Peña Nieto nasceu em família de larga tradição na política mexicana. Seu bisavô, Severiano Peña, foi prefeito de Acambay quatro vezes (1914, 1916, 1921 e 1923). Ele tem parentescos com dois ex-governadores do estado do México, Alfredo del Mazo González, primo-irmão de seu pai, e Arturo Montiel Rojas, um parente distante de sua mãe. É apontado como membro do suposto Grupo de Atlacomulco do PRI, que conseguiu eleger, além dos dois parentes de Peña Nieto e do próprio, mais quatro governadores do mesmo estado (Isidro Fabela, Alfredo del Mazo Vélez, Salvador Sánchez Colín e Carlos Hank González).

De criação católica conservadora, seus pais o levavam e a seus três irmãos semanalmente à missa. Conta entre seus parentes com dois bispos, em particular Arturo Vélez Martínez, influente bispo de Toluca por quase trinta anos, até sua morte em 1989. Sua educação se deu em grande parte em instituições católicas, como o Colegio Plancarte de Atlacomulco, dirigida pelas freiras da ordem das Hijas de María Inmaculada de Guadalupe, onde cursou os quatro anos do primário; estudou o primeiro ano do secundário no internato marista para meninos Dennis Hall School, no estado americano do Maine; e formou-se pela Universidad Panamericana, mantida pela Opus Dei, tendo cursado direito entre os anos 1984 e 1989. Aponta-se sua estreita ligação política com essa ordem ultraconservadora.

Sua tese de conclusão de curso versou sobre El Presidencialismo Mexicano y Álvaro Obregón, a quem admira por ter fortalecido o poder executivo e o presidencialismo. Dedicou seu trabalho ao seu parente e padrinho político, Arturo Montiel Rojas. Posteriormente, tornou-se mestre em Administração pelo Instituto Tecnológico y de Estudios Superiores de Monterrey (ITESM).

Logo no início de seu curso de direito ingressou no PRI. A partir de 1990, desempenhou uma série de funções partidárias: primeiro foi secretário em um dos distritos do Movimiento Ciudadano de la Confederación Nacional de Organizaciones Populares (CNOP), setor popular do PRI; foi representante da Comisión Coordinadora de Convenciones para la Asamblea Municipal del Frente Juvenil Revolucionario (FJR, as juventudes do PRI) em outro distrito; delegado da Frente de Organizaciones y Ciudadanos em vários municípios de seu estado e instrutor do Centro de Capacitación Electoral do PRI. Em 1993 foi nomeado tesoureiro da campanha eleitoral do candidato a governador do PRI, Emilio Chuayffet Chemor. Após a vitória deste, foi durante cinco anos secretario particular do secretário de Desenvolvimento Econômico, Juan José Guerra Abud (1993-1998).

É desta época o início de sua conturbada vida matrimonial. Em 1994 casou-se com Mónica Pretelini, com quem teve três filhos. Esta, em 2007, faleceu abruptamente de uma arritmia cardíaca decorrente de um ataque epilético, tendo sido levantada na época uma série de dúvidas sobre as circunstâncias reais de suas morte, inclusive envolvendo seu marido. Durante esse casamento, teve dois filhos frutos de relações extraconjugais, um deles falecido no primeiro ano de vida, de câncer. Já em 2008 anunciou seu noivado com a famosa atriz de telenovelas Angélica Rivera, casando-se em 2010. Se o primeiro casamento terminou sob suspeitas, este se iniciou da mesma maneira: a atriz conseguiu, sem nenhuma explicação muito clara, a anulação de seu primeiro casamento junto à Igreja Católica, sendo que muitos tributaram o feito como mais uma prova das relações profundas de Peña Nieto com a hierarquia da Igreja e do apoio desta à construção futura de sua candidatura presidencial.

Em 1999, foi o subcoordenador financeiro da campanha a governador de Arturo Montiel Rojas, que se elegeu para o mandato de 1999-2005. Sob os auspícios de seu padrinho, Peña Nieto excerceu várias funções governativas: secretário particular do secretário de Desenvolvimento Econômico, Carlos Rello Lara; presidente do conselho do Instituto de Seguridad Social del Estado de México, entre outros. Entre 2000 e 2002 foi Secretário de Administração e em setembro de 2003 conquistou um mandato como deputado do Estado do México pela circunscrição de Atlamoculco e, até setembro de 2014, foi coordenador do grupo parlamentar do PRI.

Arturo Montiel Rojas viu seu projeto de ser candidato à presidência inviabilizado por uma série de denúncias de corrupção – que mesmo sem condenações o fez aparecer na 9ª posição da lista da Forbes de 2013 dos dez mexicanos mais corruptos –, mas Peña Nieto conquistou não só a indicação em 2005, como venceu com 49% dos votos as eleições para governador do Estado do México, o mais populoso do país. Em aliança com o Partido Verde Ecologista de México (PVEM) derrotou Rubén Mendoza Ayala, candidato da coligação do Partido Acción Nacional (PAN) e Convergencia, que ficou em segundo com 25,6 %, e Yeidckol Polevnskyy, da coligação Unidos para Ganar, do Partido de la Revolución Democrática (PRD) e o Partido del Trabajo (PT), que obteve 25,11 % dos votos.

Durante seu mandato como governador afirmou ter cumprido grande parte dos 608 compromissos que havia registrado em cartório durante o período de campanha, como a construção de mais de 83 quilômetros de autopistas e a construção de 10 hospitais municipais. Contudo, seu governo não realizou as mudanças mais profundas e necessárias: não superou problemas infraestruturais graves, como a ausência de um sistema de transporte público metropolitano que ligue o estado do México e o Distrito Federal. Em dezembro de 2010, o estado estava entre as dez maiores taxas de desemprego do país, acima da taxa nacional, e continuou sendo um dos estados mais desiguais do país. Ainda que a população em situação de pobreza tenha se reduzido, entre 2008 e 2010, de 43,9% para 42,9%, os mexiquenses em situação de extrema pobreza passaram de 6,9% a 8,1%.

Um fato que marcou seu mandato foi a brutal repressão policial ordenada por ele, em 2006, na cidade de San Salvador Atenco, quando forças repressivas destruíram casas e lojas, mataram um jovem e prenderam 207 pessoas, incluindo 9 menores de idade e um paraplégico. Praticou-se em larga escala a tortura e foram expulsos ilegalmente cinco estrangeiros. Porém, o caso mais grave relacionou-se com as mulheres: das 47 presas, 26 denunciaram tortura sexual, abusos, humilhações e estupros. Essa ação policial foi amplamente apoiada pela grande imprensa, mas a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) aceitou, em 2011, as denúncias contra as violações sexuais do caso. Até 2014, foram presos 22 funcionários do governo estadual por envolvimentos com essas crimes.

Apesar disso, em 2008, foi considerado, segundo a pesquisa realizada por Consulta Mitofsky, o governador mais conhecido nacionalmente (68,4%) e, em 2011, aparecia nos cenários com possíveis candidatos presidenciais como vitorioso. Sua popularidade foi conseguida descolando sua imagem do partido, focando-se em atributos pessoais como juventude e beleza e, em grande parte, por suas relações estreitas com os principais meios de comunicação, em particular a Televisa, que foi denunciada pelo The Guardian, em 2012, por ter vendido uma cobertura favorável à Peña Nieto.

Durante sua candidatura enfrentou o que ficou conhecido como “Primavera Mexicana”, levada à frente pelo Movimiento YoSoy132, dos estudantes universitários do país. Estes questionaram a participação de Peña Nieto no caso Atenco, mas, a partir das respostas do mesmo e o apoio da grande imprensa, avançaram com a defesa da democratização das comunicações e denunciaram as relações do candidato com a grande mídia, organizando marchas massivas pelo país. Apesar disso e dos questionamentos feitos ao Tribunal Eleitoral pelo candidato do PRD, Andrés Manuel López Obrador, ele foi considerado vitorioso, com 38,02% dos votos, frente ao perredista que obteve 31,07% e a candidata do PAN, Josefina Vázquez Mota, reconduzindo o PRI ao governo federal após doze anos de interregno panista.

Enrique Peña Nieto durante primeiro Informe de Governo, na Residência Oficial de los Pinos (PresidenciaMX 2012-2018/CC BY-SA 3.0)
Seu governo é marcado pelo avanço de reformas neoliberais, em particular a Reforma Educativa, que desatou a resistência com grandes manifestações da Coordinadora Nacional de Trabajadores de la Educación (CNTE) e a Reforma Energética. Esta, se não conseguiu avançar para o desmonte da PEMEX, quebrou com o monopólio estatal, que durou mais de 80 anos, sobre a exploração do petróleo e avançou na desnacionalização, abrindo as portas para o investimento estrangeiro no mais estratégico setor da economia nacional. Também no setor de eletricidade aplicou-se a mesma reforma.

Também vem se desgastando em razão da redução do crescimento econômico e o aumento da percepção popular do crescimento da violência, inclusive com a criação de grupos de autodefesa popular. A pior crise até agora está relacionada com o desaparecimento dos 43 normalistas de Ayotzinapa perpetrado, segundo denúncias, pelo grupo narcotraficante Guerrero Unidos em conjunto com as forças policiais e em articulação com o então prefeito de Iguala, José Luis Abarca Velázquez. As mobilizações que se iniciaram exigindo o aparecimento dos estudantes se converteram em atos de muitos milhares de pessoas contra a violência policial e dos cartéis do narcotráfico e que se dirigiram diretamente à Peña Nieto, exigindo sua renúncia da presidência.

A imagem de Peña Nieto como presidente sofreu abalos, a partir de novembro de 2014, por uma série de denúncias de corrupção. Nesse mês, jornalistas de Aristegui Noticias afirmaram que a família do presidente, na figura da primeira-dama, possuía uma mansão em Las Lomas, de US$ 7 milhões, registrada em nome de Ingeniería Inmobiliaria del Centro, empresa do Grupo Hinga, do empresário Juan Armando Hinojosa Cantú, o qual ganhou contratos de Peña Nieto quando governador do Estado do México. No período de sua presidência, uma das empresas desse mesmo grupo participou do consórcio, liderado por chineses, vencedor da licitação para a construção da linha de trem de alta velocidade México-Querétaro, anulada antes mesmo das denúncias, no dia 6 de novembro, por suspeitas levantadas sobre o processo. O The Wall Street Journal denunciou em dezembro de 2014 que o Secretário de Fazenda, Luis Videgaray, figura muito próxima do presidente, adquiriu do mesmo empresário uma casa no valor de meio milhão de dólares apenas algumas semanas antes de assumir o cargo atual. Em janeiro de 2015, o mesmo jornal estadunidense revelou que Peña Nieto, logo após assumir em 2005 como governador, comprou uma casa em um clube de golfe, em Ixtapan de la Sal, de Roberto San Román Widerkehr, proprietário da Constructora Urbanizadora Ixtapan, a qual, durante 2005 e 2011, ganhou contratos no valor de US$ 100 milhões do governo mexiquense, além de ter conseguido 11 contratos federais, seis por adjudicação direta, num total de US$ 40 milhões, desde que Peña Nieto se tornou presidente. Até então essa empresa nunca tinha tido um contrato federal. As relações entre os San Román e o atual presidente vão além: Roberto San Román Dunne, filho de San Romãn Widerkehr, é o padrinho de sua filha Paulina Peña Petrelini. Anteriormente, no entanto, escândalos envolvendo governadores do PRI, como o então governador de Tabasco, Andrés Granier, acusado de desvio de dinheiro público, também já afetavam a imagem do presidente, que havia prometido renovar o partido.

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