Salles Gomes, Paulo Emílio

São Paulo (Brasil), 1916 - 1977

Crítico de cinema e professor, foi militante da Juventude Comunista e, em 1935, engajou-se na Aliança Nacional Libertadora. Foi, por quinze meses, prisioneiro político da ditadura de Getúlio Vargas. Em 1937, escapou da prisão e exilou-se na França, lá permanecendo até o início da Segunda Guerra Mundial. Estudou, em Paris, literatura francesa, sociologia e jornalismo, engajando-se em várias atividades políticas. Voltou ao Brasil e, em 1940, com os jovens alunos da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (FFCL- USP ) – Antonio Candido, Décio de Almeida Prado, Lourival Gomes Machado, Gilda de Mello e Souza, Ruy Coelho, entre outros –, iniciou as atividades do Clube de Cinema de São Paulo, exibindo as poucas películas clássicas disponíveis, seguidas de animados debates, posteriormente proibidos pela polícia. Entre 1941 e 1944, publicou-se a revista Clima, editada pelo mesmo grupo, cabendo a Paulo Emílio a seção de cinema. Bacharelou-se em filosofia em 1942, e instalou-se em Paris em 1946, com uma bolsa do governo francês, para estudar no Institut des Hautes Études Cinématographiques (IDHEC). Lá desenvolveu uma série de atividades junto à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e ao Museu do Homem, além de ser credenciado para representar o segundo Clube de Cinema, criado em São Paulo em 1946, e a filmoteca que acabara de se instalar no Museu de Arte Moderna (MAM); foi, também, correspondente do jornal O Estado de S. Paulo e da revista Anhembi. Conseguiu que as entidades de cinema brasileiras integrassem a Fédération International des Ciné-Clubs e a Fédération International des Archives du Film. Na França, fez pesquisas que culminariam nos livros Jean Vigo (1957 e 1987, edições francesa e brasileira) e Vigo, vulgo Almereyda (1991), respectivamente, sobre o cineasta de L’Atalante e a respeito de seu pai, Miguel Almereyda, um anarquista do começo do século XX, morto na prisão. Retornou ao Brasil em definitivo em 1954, por ocasião das comemorações do IV Centenário da Cidade de São Paulo. Elaborou catálogos e convidou cineastas europeus para participar do Festival Internacional de Cinema, ocorrido no âmbito dos festejos. Nesse mesmo ano, tornou-se conservador da Filmoteca do MAM e, de 1956 a 1966, ficou encarregado da seção de cinema do “Suplemento Cultural” do jornal O Estado de S. Paulo. Posteriormente, o conjunto de suas críticas foi publicado em dois volumes com o título Crítica de cinema no Suplemento Literário (1982). Em 1957, ocorreu o incêndio da Filmoteca do MAM, destruindo grande parte do acervo. A partir daí, foi criada a Fundação Cinemateca Brasileira, na qual Salles Gomes engajou-se por inteiro. Desde o início dos anos 60 foi professor convidado para organizar, na Universidade de Brasília (UnB), o curso de graduação no domínio de cinema. Foram seus colegas Jean-Claude Bernardet, Lucila Ribeiro Bernardet e Nelson Pereira dos Santos. Com o golpe de 1964, voltou a São Paulo e iniciou seu trabalho na FFCL-USP. Em 1968, passou para a Escola de Comunicação e Artes (ECA) da USP, lecionando história do cinema brasileiro. Sua presença foi importante na formação de uma nova geração de docentes e pesquisadores que tinham o cinema brasileiro como horizonte intelec­tual de trabalho. Aos poucos, os intelectuais selecionados por ele foram se agrupando na Cinemateca, sendo responsáveis pela reavivação da entidade. Fez um doutorado tardio (1972), transformado no livro Humberto Mauro, Cataguases, Ci­nearte, em 1974. Publicou, ainda, 70 anos de cinema brasileiro (com Adhemar Gonzaga, 1970) e Cinema: trajetória no subdesenvolvimento (1980). Foi casado com a escritora Lygia Fagundes Telles.

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