Ferré Aguayo, Luis A.

Ferré Aguayo, Luis A.

Ponce, 1904 - San Juan (Porto Rico), 2003

Luis A. Ferré Aguayo, governador de Porto Rico entre 1969 e 1973, foi um dos mais destacados empresários porto-riquenhos do século XX. Profissional de engenharia, foi reconhecido também como humanista: pianista aficionado, colecionador de arte e filantropo.

Seu pai, engenheiro também, emigrou para Porto Rico em 1896, proveniente de Cuba. Radicou-se em Ponce, onde atuou como mecânico das centrais açucareiras, até que, em 1918, estabeleceu a fundição Porto Rico Iron Works, que provia ou consertava peças para as centrais. Em 1901, casou-se com a porto-riquenha Mary Aguayo Casals, de uma proeminente família liberal de Ponce.

Luis Ferré estudou nas escolas públicas de sua cidade natal, cursou engenharia no Massachussets Institute of Technology (MIT) e música no Conservatório de Nova Inglaterra, em Boston. Sua tese de mestrado no MIT versava sobre o uso do bagaço de cana como energia e matéria-prima para a produção de papel e papelão. Em 1925, começou a trabalhar na Porto Rico Iron Works, onde fundou uma cooperativa de empregados, à qual era concedida participação nos ganhos da empresa. Em 1931, casou-se com Lorencita Ramírez de Arellano, de uma família de fazendeiros canavieiros. Com ela, teve seus dois filhos, Antonio Luis, que impulsionou o principal jornal de Porto Rico da atualidade, e Rosario Ferré, escritora de reconhecimento internacional.

Em 1946, Luis Ferré comprou do governo a Ponce Cement. Com o auge desenvolvimentista e urbano dos anos 1950 e 1960, a Ponce Cement converteu-se em uma das empresas de cimento mais importantes do Caribe. Ferré chegou a ser considerado o homem mais rico do país. Além disso, comprou e dirigiu o jornal local de Ponce, El Día (1945-1969), que, como El Nuevo Día, mudou-se para San Juan em 1970, sob a direção de seu filho. Em seu trabalho filantrópico, anterior à sua eleição para governador, Luis Ferré fundou a Biblioteca Pública de Ponce (1937), a Universidade Católica Pontifícia (1948), a Fundação Ferré (1950) e o Museu de Arte de Ponce, que abriga a coleção mais prestigiada do país, e das mais completas internacionalmente, de pré-rafaelistas europeus (1956).

Considerado o principal prócer anexionista “moderno”, Luis Ferré via na estadualização um veículo para melhorar a economia porto-riquenha e assegurar seu crescimento de acordo com os ide­ais democráticos. Pertenceu ao Partido Estadista Republicano (PER), afiliado ao Partido Republicano dos Estados Unidos, pelo qual foi candidato (derrotado) a comissionado residente (1948) e a governador (1956, 1960 e 1964). Em 1952, participou como delegado do PER e da Assembleia Constituinte que formulou a Constituição do Estado Livre Associado, e foi eleito à nova Câmara de Representantes de onde gestionou, ante os Estados Unidos, o aumento do salário mínimo para os trabalhadores porto-riquenhos.

Vinculada à fase fabril da agroindústria açucareira, a família Ferré representou, como nenhuma, a transição da classe proprietária local: do capitalismo agrícola ao capitalismo industrial e, em seguida, com muito êxito, à indústria de comunicação, de acumulação flexível, nas últimas décadas. Luis Ferré distinguiu-se como partidário de um capitalismo humanista internacionalista: defensor dos “grandes valores do Ocidente” e de um trato “decoroso” para com os trabalhadores, que assentasse as bases para a “paz industrial”, sobretudo fomentando que aqueles se convertessem em coproprietários. Em 1967, Luis Ferré rompeu com o PER e liderou a fundação do Partido Novo Progressista (PNP), pelo qual venceu as eleições para governador. Sua administração procurou combinar um maior apoio ao empresariado local com o fomento do investimento estrangeiro na indústria pesada. Sua proposta mais sonhada – o Patrimônio para o Progresso – tentava ampliar as bases do setor proprietário, de tal forma que incluís­se muitos trabalhadores. Lutou pela paz industrial, aumentando salários e incorporando benefícios, em um período de intensificação das lutas sociais. Seu governo enfrentou mais de setenta greves operárias e numerosas ocupações ou “resgates” de terra para moradia. Além disso, teve de governar com um Senado controlado pelo partido opositor, o PPD, o que, junto com fissuras em seu próprio partido e sua classe – precisamente quanto a seus planos de maior justiça social –, não lhe permitiu avançar em todos os seus objetivos. Em 1972, perdeu para o PPD em sua tentativa de reeleição. Naquele ano, publicou o livro O propósito humano, que compila sua filosofia social e econômica.

Retornou à política como senador, entre 1976 e 1980, e, em seguida, manteve-se discretamente ativo como a grande figura fundacional do PNP até sua morte, em 2003.

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