Um dos maiores pensadores das ciências sociais do Brasil, Sérgio Buarque de Holanda era filho de um dos fundadores da Escola de Farmácia e Odontologia de São Paulo. Iniciou sua atividade de escritor no Correio Paulistano, na Cigarra e na Revista Brasil, em plena efervescência pré-modernista, e nessa atividade conheceu Menotti del Picchia, Gustavo Barroso e Monteiro Lobato. Transferiu-se com a família para o Rio de Janeiro em 1921, onde se matriculou na Faculdade de Direito. Não foi um aluno interessado nem assíduo, mas fez grandes amizades, como as com Prudente de Moraes Neto e Afonso Arinos de Mello Franco.
Em 1936, casou-se com Maria Amélia Cesário Alvim, com quem teve sete filhos (entre os quais o compositor e poeta Chico Buarque de Holanda). Naquele mesmo ano, foi convidado por Prudente de Moraes, então diretor da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade do Distrito Federal, a ser assistente do professor Henri Hauser, na cadeira de História Moderna e Econômica, e do professor Tronchon, na cadeira de Literatura Comparada. Nesse mesmo ano, publicou Raízes do Brasil, que se tornaria um clássico da sociologia, inaugurando a coleção Documentos brasileiros, dirigida por Gilberto Freyre. Sérgio Buarque de Holanda aplicou criativamente os tipos ideais weberianos para compreender a especificidade de nossa formação social: o espírito aventureiro português teria se internalizado nos trópicos para fundar as bases de uma sociedade constituída pelo ruralismo em oposição às cidades; no patriarcado e no patrimonialismo, em oposição ao liberalismo; no bacharelismo, em oposição ao trabalho físico e empreendedor; no improviso e na cordialidade, em oposição ao racionalismo e formalismo.
Buarque de Holanda não via, entretanto, o futuro da sociedade brasileira circunscrito a essas origens. Considerava a crescente urbanização, desatada após a abolição da escravatura e a proclamação da República, um lento processo de transformação social que tenderia a pôr em questão as hierarquias sociais preservadas da colonização. Em 1945, publicou Monções e fundou a Esquerda Democrática, que passaria, posteriormente, a constituir o Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em 1946, voltou a São Paulo, sendo eleito presidente da Associação Brasileira dos Escritores e indicado diretor do Museu Paulista.
Em 1948, lecionou História Econômica e História Social do Brasil na Escola de Sociologia e Política. De 1953 a 1955, foi titular da cadeira de Estudos Brasileiros criada na Universidade de Roma. Em 1958, recebeu o grau de mestre em Ciências Sociais na Escola de Sociologia e Política de São Paulo e conquistou a cadeira de História da Civilização Brasileira na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, apresentando como tese Visão do paraíso: os motivos edênicos no descobrimento e na colonização do Brasil, que publicou no ano seguinte. Entre 1960 e 1972, planejou e coordenou a coleção História geral das civilizações.
Criou, em 1962, o Instituto de Estudos Brasileiros, tornando-se seu primeiro diretor. Entre 1965 e 1967, foi professor visitante na Universidade de Indiana e na New York State University, nos Estados Unidos. Em 1969, requereu sua aposentaria do cargo de catedrático da USP em solidariedade aos colegas afastados de suas funções pelo Ato Institucional nº5. Recebeu o troféu Juca Pato de intelectual do ano (1979) e, em 1980, participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Morreu em 1982, em São Paulo.