Black Power

A expressão black power (poder negro) foi criada por Stockley Carmichael, militante radical do movimento negro nos Estados Unidos, após sua 27ª detenção, em 1966. “Estamos gritando liberdade há seis anos”, anunciou Carmichael. “O que vamos começar a dizer agora é poder negro.” Ex-dirigente do Comitê Coordenador dos Estudantes pela Não Violência (SNCC –­ Student Nonviolent Coordinating Committee), Carmichael escreveu o livro Black Power, em parceria com Charles V. Hamilton, e foi um dos mais destacados militantes do Partido dos Panteras Negras (Black Panther Party).

O movimento Black Power surgiu nos Estados Unidos durante as grandes mobilizações da população afrodescendente pela igualdade de direitos civis nos anos 1960 do século passado, e teve forte influência sobre as populações negras da América Latina e do Caribe nos anos e décadas seguintes. Tal como o criador da expressão, muitos membros do SNCC tornaram-se críticos da política de não violência liderada pelo pastor Martin Luther King, influenciados pelas pregações de autodefesa da comunidade negra feitas pelo líder Malcolm X. Inspirados em Malcolm X e no maoísmo, os Panteras Negras anunciavam que a população negra norte-americana vivia sob condições de dominação e hegemonia brancas e que, portanto, era necessária a autodeterminação da comunidade afrodescendente. O Partido dos Panteras Negras, em certo sentido expressão do movimento de mesmo nome, foi fundado em 1966, em Oakland, Califórnia, por Bobby G. Seale, Huey P. Newton e Eldridge Cleaver­. Criado originalmente como uma organização de defesa dos direitos dos negros, os panteras acabaram pregando o uso de armas.

No seu auge, em 1968, o grupo já contava com 5 mil filiados, o que despertou uma campanha de reação do governo norte-americano e muitas prisões, sob acusação de terrorismo. Um conflito envolvendo os panteras e a polícia de Chicago, em 1969, resultou na morte de dois líderes do partido, que se dissolveu em 1972. Em 1968, nas Olimpíadas do México, os atletas Tommie Smith e John Carlos, medalhas de ouro e bronze nos 200 metros rasos, ergueram os punhos esquerdos calçados com luvas pretas, logo após o hino norte-americano, numa expressão celebrativa do Poder Negro. Dias depois, os também corredores Vincent Mathews, Ron Freeman, Larry James e Lee Evans, ainda na pista, levantaram os punhos fechados com igual intenção, gesto repetido por Bob Beamon, campeão de salto em distância.

Angela Davis foi uma importante e internacionalmente conhecida ativista dos Panteras Negras. Em 1970, ela tornou-se a terceira mulher a aparecer na lista dos mais procurados pelo FBI, acusada de conspiração, sequestro e homicídio. Davis teria ajudado Johnathan Jackson a tentar resgatar seu irmão mais velho, George Jackson, durante seu julgamento. A ação resultou na morte do juiz do caso, Harold Haley, de outros prisioneiros e do próprio Johnathan Jackson. Uma das armas utilizadas no resgate estava registrada no nome de Angela, o que a levou à condenação e à prisão. Davis passou a organizar as detentas enquanto esteve presa. Sua libertação foi exigida numa campanha internacional. Angela é professora da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz.

O movimento Black Power e o Partido dos Panteras Negras tiveram notável influência na reconstrução ideo­lógica e política do movimento negro em todas as regiões por onde se estendeu a diáspora africana e também na América Latina.

No Brasil, o bloco afro Ilê Aiyê, fundado em Salvador, Bahia, em 1974, segundo diversos depoimentos, teve na origem inspiração do Black Power. O nome original do bloco seria, na verdade, Poder Negro. Temendo represálias da polícia (o Brasil estava em plena ditadura militar), o grupo resolveu adotar um nome não tão carregado politicamente, optando-se por Ilê Aiyê, ou mundo negro, em iorubá. Quando o bloco desfilou pelas ruas de Salvador pela primeira vez saiu cantando uma canção de Paulinho Camafeu, intitulada “Que bloco é esse”, que dizia o seguinte: “Que Bloco é esse/ Eu quero saber/ É o Mundo Negro/ Que viemos mostrar pra você./ Somos Crioulo doido/ Somos bem legal/ Temos cabelo duro/ Somos Black Power”.