Frugoni, Emilio

Frugoni, Emilio

Montevidéu (Uruguai), 1880 - 1969

Em meio as tentativas de fundar um Partido Socialista no Uruguai, durante a década de 1890 e nos primeiros anos do século XX, a incorporação de Emilio Frugoni às fileiras do socialismo constituiria um marco de todo o processo. Nascido em um lar abastado, de pai comerciante e genovês de origem, a primeira militância política de Frugoni se realizou nas fileiras do Partido Colorado. Teve fugaz participação no lado governista na revolução de 1897; foi animador junto com José E. Rodó e Carlos Reyles do Clube Colorado Liberdade e voltou a participar do lado oficialista na revolução de 1904, alistando-se primeiro como guarda nacional e servindo depois como ajudante de Estado Maior. Essa segunda experiência como participante direto de uma guerra civil teve um impacto muito forte em suas convicções políticas, provocando seu distanciamento das fileiras coloradas e reorientando suas ideias às propostas socialistas. Já então era um homem de prestígio nos círculos intelectuais de Montevidéu: estudante avançado de direito, poeta e polemista. No segundo semestre de 1904 apareceu já filiado ao Centro Operário Socialista, instituição que organizou uma conferência pública que se intitulou Profissão de Fé Socialista, de 22 de dezembro desse mesmo ano, na sede da Nova Estrela d’Itália.

Em 1910, Frugoni foi o primeiro deputado do Partido Socialista, por ocasião das eleições desse ano, nos marcos de uma coalizão com o Partido Liberal. Tornou-se uma figura fundamental da vida política e cultural uruguaia: foi legislador em várias oportunidades entre 1911 e 1942; constituinte em 1917; primeiro catedrático em Legislação do Trabalho na Universidade da República; Decano da Faculdade de Direito entre 1932 e 1933 (cargo a partir do qual resistiria junto com os estudantes ao golpe de Estado de 1933); ministro plenipotenciá­rio do Uruguai perante a União Soviética entre 1944 e 1946; jornalista, poeta e ensaísta; autor de numerosas obras ideológicas, políticas e literárias; e secretário-geral de seu partido durante décadas, entre outros muitos fatos relevantes de sua vida.

Como líder indiscutível do Partido Socialista uruguaio, desde sua fundação até a década de 1950, impulsionou um socialismo de cunho liberal, atlantista, fortemente crítico dos partidos tradicionais uruguaios, europeísta em suas principais inspirações, crítico da experiência soviética (coube-lhe enfrentar os incipientes comunistas defensores das teses leninistas em 1920 e 1921, sendo então derrotado) e firme defensor da necessária conciliação entre o socialismo e a democracia. Autor de numerosos livros de doutrina, como autêntico ideólogo socialista que era, perdeu a hegemonia em seu partido em fins dos anos 1950. Em 1962, rompeu com o Partido Socialista, rechaçando seu vínculo com setores cindidos do Partido Nacional na efêmera e frustrante experiência da União Popular. Fundou em seguida o Movimento Socialista, na frente do qual voltou a comparecer diante das urnas em 1966, em uma coalizão eleitoral com o Partido Socialista. Nessa circunstância, já octogenário, não vacilou em vender sua famosa biblioteca para que seu movimento pudesse fazer frente a uma campanha eleitoral na qual colheu uma derrota duríssima. Faleceu em agosto de 1969, com 89 anos, proscrito como seu partido, quando no Uruguai começavam a perfilar-se os tempos obscuros do autoritarismo. Carlos Quijano o homenageou com as seguintes palavras:

[…] ninguém pode tirar de Frugoni seu honroso posto na história do continente, […] do país […] do socialismo. Mestre de vida e […] de esperança, ele nos ensinou com seu exemplo a perseverar sem triunfar: a virtude do orgulho e o valor da modéstia. Frugoni nos ensinou também que o marxismo […] é o único humanismo fecundo e o mais alto idealismo. E nos revelou como o amor à terra e a seu povo pode ser chaga e alegria. […]

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