A dimensão reduzida, a homogeneidade social e o caráter essencialmente urbano do Uruguai definiram ao longo do século XX uma arquitetura sóbria, coerente, com raras saliências. Os profissionais que definiram os caminhos do Movimento Moderno – Juan. A. Scasso, Mauricio Cravotto, Julio Vilamajó, Román Fresnedo Siri, Mario Payssé Reyes e outros – assimilaram as correntes estilísticas do exterior adaptando-as às condições locais e integrando-as ao contexto urbano circundante. Ao mesmo tempo, a especulação edilícia, desencadeada na segunda metade do século XX, alcançou um nível arquitetônico aceitável que manteve o caráter “humano” e habitável de Montevidéu.
No logrado equilíbrio entre cidade e arquitetura e entre estética, técnica e função, não surpreende que a figura mais conhecida, valorizada e difundida internacionalmente pela criatividade e sensibilidade de sua obra “arquitetônica” seja um engenheiro. Graduado pela Faculdade de Engenharia de Montevidéu, em 1943, Eladio Dieste se interessou pelo desenvolvimento de estruturas leves realizadas com materiais locais, mão de obra artesanal e adaptadas aos precários recursos disponíveis. Em vez de privilegiar o concreto armado, estudou o comportamento do tijolo como componente estrutural, combinado com aço, criando o sistema de “cerâmica armada”. De imediato, surpreendeu a leveza das camadas de cobertura de depósitos, silos, armazéns e terminais de ônibus, assim como os efeitos obtidos com a iluminação natural dos locais. Sua primeira obra arquitetônica foi a igreja paroquial de Cristo Obrero e Nossa Senhora de Lourdes, em Atlântida (1957 - 1958), cujas paredes sinuosas e cobertas de tijolo configuram espacialidade e luminosidade inéditas, que lembram as experiências do catalão Antonio Gaudí.
O clímax da leveza – fazendo parecer que as paredes e o teto enrugado estão levitando – foi atingido na igreja de São Pedro, em Durazno (1967-1971), cuja roseta de tijolo retoma a transparência dos vitrais medievais. A partir do depósito da TEM, no porto de Montevidéu (1962), suas estruturas se fizeram cada vez mais ousadas até alcançar os 14 metros de vão no terminal de ônibus em Salto (1974) ou a luz de 47 metros sem apoios no mercado de Porto Alegre, Brasil (1972), em colaboração com Maximiliano Fayet e Claudio Araújo. Por fim, com o sistema de cerâmica armada, construiu uma torre leve de 66 metros de altura para a televisão local na cidade de Maldonado (1986). Todos esses projetos teriam sido impossíveis de se levar adiante sem a estreita colaboração entre o engenheiro e a inventividade dos trabalhadores que o acompanharam na construção de suas obras. A admiração pela originalidade de suas propostas ficou demonstrada nos prêmios, nas exposições e publicações internacionais: em 1990, recebeu o reconhecimento à sua obra na Bienal de Quito e o Prêmio Gabriela Mistral da OEA. Em 1991, o V SAL outorgou-lhe o Prêmio América, em Santiago do Chile.