Guimarães, Ulysses

Guimarães, Ulysses

Rio Claro, 1916 - Ponta da Joatinga (Brasil), 1992

Advogado formado pela Universidade de São Paulo (USP), em 1940, Ulysses Silveira Guimarães teve uma das mais longas e destacadas carreiras políticas do Brasil do século XX. Foi vice-presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1940; deputado estadual constituinte pelo PSD (1947-1950), deputado federal (1950-1992), ministro da Indústria e Comércio (1961-1962), presidente da Câmara dos Deputados por três vezes (1956-1957, 1985-1986 e 1987-1988) e presidente do principal partido de oposição à ditadura militar, o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), entre 1972 e 1980, e de seu sucessor, o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), de 1980 até sua morte trágica, num acidente aéreo.

Parlamentar à época do golpe de 1964, manifestou simpatias pelo movimento militar em seu início, mas logo passou à oposição, denunciando o golpismo da empreitada. Sua postura contestadora radicalizou-se no fim do governo do general Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), quando se lançou anticandidato à sua sucessão, realizada por eleição indireta no Colégio Eleitoral, à época formado pelo Congresso Nacional. Ulysses percorreu o país em companhia de seu vice, o jornalista Barbosa Lima Sobrinho (1897-2000), numa campanha de denúncias do autoritarismo vigente. A frase pronunciada num discurso em Salvador (BA) após um cerco policial à sua comitiva – “Baioneta não é voto e cachorro não é urna” – transformou-se em mote de campanha.

Ulysses Guimarães já era o principal dirigente oposicionista quando se projetou como líder do mais importante movimento de massas da história do Brasil, a campanha pelas eleições diretas, em 1984. Milhões de pessoas saíram às ruas em centenas de cidades do Brasil para exigir seu direito de votar para presidente da República, num momento em que o projeto econômico da ditadura, a partir da crise da dívida externa (1982), entrava em colapso. O clamor popular foi derrotado no Parlamento, mas fortaleceu a candidatura de Tancredo Neves, também do PMDB, no Colégio Eleitoral. Uma divisão no partido da ditadura, a Aliança Renovadora Nacional (ARENA), possibilitou a eleição do oposicionista. Tancredo viria a morrer antes da posse. Ulysses foi decisivo para que o vice-presidente José Sarney assumisse o posto e governasse entre 1985 e 1990.

A partir de 1987, Ulysses conduziu, como presidente do Congresso Constituinte, os trabalhos que resultaram na Carta de 1988. Chegou, por curtos períodos, a assumir interinamente a Presidência da República. No entanto, seus êxitos inegáveis não foram suficientes para concretizar seu maior sonho – eleger-se presidente da República. Em 1989, no primeiro pleito direto desde 1960, ficou em sétimo lugar, com cerca de 5% dos votos. A crise de rumos que acometeu o governo Sarney em seus estertores atingiu em cheio o PMDB, numa disputa claramente polarizada entre um postulante de esquerda (Luiz Inácio Lula da Silva) e um de direita (Fernando Collor de Mello).

Reeleito deputado federal pela décima primeira vez em 1990, Ulysses Guimarães ainda participou ativamente da campanha pelo impeachment do presidente Collor de Mello, aprovado pelo Congresso em setembro de 1992. No dia 12 desse mesmo mês, voltando de helicóptero de um curto descanso em Angra dos Reis (RJ), sofreu um acidente e desapareceu em alto-mar, na companhia da esposa Mora e do senador Severo Gomes e sua esposa.

O deputado Ulysses Guimarães mostra a Constituição brasileira, promulgada em 1988, em Brasília (Arquivo ABr)