Charles, Mary Eugenia

Charles, Mary Eugenia

Pointe Michel (Dominica), 1919 - Fort-de-France (Martinica), 2005

Conhecida também como “Mamo”, Mary Eugenia Charles foi a primeira-ministra de Dominica de 1980 a 1995. Neta de escravos, era filha de John Baptiste e Josephine Delauney. O pai tornou-se um próspero fazendeiro, exportador de frutas, especulador de terras e político, além de fundador de um banco – Penny Bank – voltado especialmente a fazendeiros empobrecidos.

Mary Eugenia estudou em Toronto, no Canadá, onde se formou em direito, e seguiu os estudos de pós-graduação em Londres, na London School of Economics. Em 1949, regressou ao país natal e tornou-se a primeira mulher a praticar a advocacia na Dominica.

Ingressou na política no final da década de 1960, quando o governo era dominado pelos trabalhistas do Partido Trabalhista de Dominica (PTD). Inconformada com uma lei de 1968 que previa o cerceamento da liberdade de expressão, liderou os protestos da oposição. Foi uma das fundadoras e a principal líder do Partido da Liberdade de Dominica (PLD). Em 1970, elegeu-se para a Assembleia e, cinco anos mais tarde, passou a liderar a oposição no Parlamento.

Durante toda a década de 1970, usou sua experiência jurídica para desafiar os governos trabalhistas e questionar seus atos e suas leis. Nas cerimônias de comemoração da independência da Dominica, proclamada em 3 de novembro de 1978, Eugenia Charles expressou grande apreensão acerca da liberdade política no país. Pouco tempo depois, descobriu-se o envolvimento do primeiro-ministro trabalhista Patrick John com operações ilegais. Apesar da atuação implacável como líder da oposição, Eugenia Charles nunca permitiu que se fosse além dos mecanismos constitucionais previstos em lei.

Mesmo com as tentativas de abafar as denúncias pelas forças de defesa criadas por Patrick John, em 1980, o PLD ganhou as eleições e Mary Eugenia Charles tornou-se a primeira mulher a assumir a chefia de governo em um país caribenho. Iniciou um programa de reformas econômicas baseado em princípios tradicionais do liberalismo. Em março e dezembro de 1981, seu governo sofreu tentativas de golpe de Estado, que foram debeladas a tempo. Dissolveu as Forças de Defesa da Dominica por ver nelas um foco golpista, gerador de instabilidade e força não leal ao governo.

Por sua determinação e posição política conservadora, passou a ser citada como a Dama de Ferro do Caribe, em paródia ao apelido de sua contemporânea Margaret Thatcher, a primeira-ministra britânica. Foi uma das principias estimuladoras da invasão de tropas dos EUA a Granada, em 1983, justificando tal ação como o meio de prevenir a “infiltração comunista cubana” na ilha vizinha e em toda a região. Nessa oportunidade, tornou-se mundialmente conhecida ao aparecer na televisão ao lado do presidente Ronald Reagan para lhe garantir apoio e legitimar a invasão, como presidente da Organização dos Estados do Caribe Oriental (OECS).

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Primeira Ministra Mary Eugenia Charles, da Dominica, em visita aos Estados Unidos, em março de 1984 (NARA)

Eugenia Charles dominou a vida política do país durante toda a década de 1980, acumulando a chefia de governo com vários ministérios, como Negócios Estrangeiros, Finanças e Defesa. Foi uma das principais porta-vozes da defesa de acesso privilegiado da banana produzida no Caribe ao mercado europeu. Argumentava que a falência da cultura da banana estimularia os agricultores a trocar o cultivo da fruta pelo plantio de drogas, como a maconha. Polêmica e moralista, baniu do país os cassinos, as casas noturnas e os free-shops, centros de atividades que julgava prejudiciais ao país.

Em 1990, foi nomeada pela terceira vez primeira-ministra. Aos poucos, foi perdendo popularidade em uma década politicamente menos conflituosa. Passou a ser vista como arrogante por um número crescente de pessoas. Não conquistou a simpatia dos intelectuais e dos mais pobres e, apesar de ser afrodescendente e mulher, não se preo­cupou significativamente com as demandas específicas desses grupos. Deixou o governo em junho de 1995 e anunciou sua retirada da vida pública. Voltou a exercer a advocacia na capital, Roseau, e foi convidada a ministrar cursos em uma universidade dos Estados Unidos. Nunca se casou nem teve filhos. Em 2003, recebeu a Ordem da Comunidade do Caribe. Faleceu aos 86 anos.